quinta-feira, 28 de abril de 2016

O blogue da Psicóloga dos Miúdos mudou de "residência"

 A Psicóloga dos Miúdos resolveu finalmente mudar de visual e contou para isso com a preciosa ajuda da fantástica Designer Gráfica Luísa Dias.
O conceito, as ideias, tudo o que aqui podiam consultar, a proximidade e a missão mantêm-se, foi só uma mudança de residência e uma nova imagem. Espero que continuem a acompanhar-me. Aqui fica o link do novo blogue:


Já espreitaram?
Até já! 

Rita Castanheira Alves

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Ciberdependência


Mas afinal o que é isto da ciberdependência?

A ciberdependência é um conceito em estudo e actual, fruto da invasão tecnológica das últimas décadas. É ponderado pela Associação Americana de Psicologia (APA) a inclusão da dependência da internet no apêndice do DSM-V (o manual de Perturbações mentais usado pela comunidade médica em geral), por já reconhecer critérios para que se torne uma perturbação como outras adições.
Os estudos mostram que o circuito neuronal envolvido na adição a drogas e que sabemos hoje é o mesmo sistema de recompensa cerebral envolvido na internet.
Podemos incluir na ciberdependência, não só dependência da internet mas também de outro tipo de tecnologias e recursos das mesmas, como vídeojogos. Pode ser considerada dependência por já se começar a verificar que provoca efeitos e prejuízos no funcionamento normal do sujeito como outras adições, seja na presença ou na ausência da mesma.

Em que faixas etárias é mais recorrente?

Os últimos estudos feitos em Portugal mostram que é uma dependência generalizada. Posso referir, por ser a população com quem trabalho (além das crianças e pais), que os adolescentes apresentam, pela fase de maturação cerebral em que se encontram, características inerentes à própria adolescência, além de terem já nascido na era tecnológica, um terreno mais fértil para que a dependência se instale e se mantenha com maiores efeitos. Por outro lado, um estudo feito pelo ISPA em 2014 mostra que cerca de 70% dos adolescentes apresentam sinais de vício da internet. São na sua maioria rapazes, do ensino secundário e não têm relacionamento amoroso (Fonte: https://www.publico.pt/sociedade/noticia/quase-tres-quartos-dos-jovens-portugueses-apresentam-sinais-de-dependencia-da-internet-1674907).
Sabemos também que o próprio isolamento da criança/adolescente leva a que seja mais vulnerável aos riscos de dependência das tecnologias.

Quais os principais sintomas/sinais de alarme?

-        Um grau elevado de importância conferido ao computador ou aos dispositivos móveis;

-        Muito tempo e sempre a escolha de se dedicar ao computador e outras tecnologias;

-        Não saber dosear nem escolher contextos para recurso às tecnologias (pôr despertador para usar; adormecer sempre com o telemóvel ou tablet ligado; nunca desligar nem se desconectar);

-        Ansiedade perante a possibilidade de não ter ligação à internet ou outras tecnologias;

-        Isolamento social;

-        sintomas de tolerância (bem-estar, alívio) face ao uso;

-        sintomas de abstinência face ao não uso (como irritabilidade, dores de cabeça, agitação e por vezes agressividade)

-        nos casos mais extremos, recaída face às tentativas sucessivas para parar.
  
Haverá ao longo dos tempos um agravamento deste tipo de situações?

Sim, mas não podemos esquecer que isso também se deve à presença cada vez maior e constante e ao acesso mais democratizado e fácil às tecnologias e especificamente, à internet. Os jovens de hoje são os primeiros a ter já nascido com tecnologias e internet à sua volta desde os seus primeiros dias.

Qual o lado mais prejudicial deste vício?

Como em qualquer vício os efeitos negativos no funcionamento normal e o que se deixa de lado por fazer uma escolha sempre do mesmo. Depois ,especificamente prejuízos já conhecidos: eventual comprometimento das zonas cerebrais envolvidas nas tomadas de decisões de riscos; perturbações de sono; irritabilidade; maior isolamento; negligência nos auto-cuidados; maiores dificuldades na motricidade grossa, menor capacidade e agilidade física global. Níveis de sedentarismo grandes.
Aparecem também os prejuízos conforme o uso dado, nomeadamente da capacidade comunicativa e de interacção com o outro, no caso de usos solitários.

Como combatê-lo?

Sabemos que há vantagens associadas ao uso das tecnologias, nomeadamente, o desenvolvimento das áreas envolvidas na memória de trabalho e capacidades visuoespaciais associado ao comportamento repetitivo de jogar videojogos, ou a possibilidade de comunicar com quem está longe, ter acesso a muita informação... Como tal, é essencial não se perder de vista os efeitos positivos e todas as vantagens associadas às tecnologias e contando com os riscos inerentes à mesma, especialmente na adolescência, tomar decisões ponderadas e regrar o uso das mesmas. Sabemos também que não podemos isolar os efeitos e riscos das tecnologias e dizer que os mesmos são universais, porque há também factores do próprio adolescente e seu contexto que aumentam ou diminuem o risco inerente ao uso das tecnologias.
Optar por uma postura preventiva, comunicando sempre com a criança ou adolescente, tendo medidas preventivas, relativamente ao uso, acesso e relação com as tecnologias.

Que alternativas devemos dar às crianças que passam muito tempo a jogar?

Como numa necessidade básica como a alimentação, diversificar: proporcionar e incentivar a criança a ocupar o tempo em novas experiências, para que previna quadros de isolamento, dependência excessiva de tecnologias e preferência total pelas mesmas. Quanto mais for envolvida noutro tipo de iniciativas e experiências, maior as possibilidades dele não preferir sempre as tecnologias e quando preferir, o fazer de forma saudável, tirando o maior partido das mesmas.
Quando joga, acompanhá-lo, conhecer o jogo, fazer perguntas, interessar-se, regrar o tempo, os jogos possíveis de jogar, as condições para jogar.

Como explicar-lhes que não é saudável nem benéfico para elas?
Informando-as sobre os efeitos e riscos até a nível cerebral, de forma curiosa e não crítica ou distante. Dando exemplos práticos, reconhecendo o lado positivo, mas mostrando preocupação genuína e fazendo o papel de adulto, indo ajustando o tempo dedicado às tecnologias e o tipo de tecnologias à idade e fase de desenvolvimento. 

Rita Castanheira Alves

quarta-feira, 23 de março de 2016

Congresso Educar no Séc XXI - Educar para a Felicidade - 3ª edição Março 2016








Foi no passado Sábado, durante toda a manhã que tive um enorme privilégio de fazer parte de uma mesa de oradores fantásticos, com projectos, ideias e pontos de vista diversificados, que se tocam, que se afastam e que se voltam a associar.
E que bom ver uma sala cheia de pais, mães, avós, professores, educadores, técnicos e todos os que quiserem estar presentes para aprender com as várias comunicações.

Como comecei a minha comunicação, escrevo também o mesmo aqui: "É "tramado" ser a penúltima a apresentar. Depois de ouvir tanto conhecimento e partilha útil e que nos faz (re)pensar, já mudaria alguns dos conteúdos que levei.":)
É bom sair do consultório e estar a partilhar com quem também se dedica ao crescimento e saúde mental dos miúdos, é voltar a respirar mais fundo e a tomar fôlego com a certeza que continua mesmo a valer a pena e há por aí muita gente boa e competente que continua a contribuir para isso mesmo. Para que continue a valer a pena.


Obrigada à BestKids & Teens pelo convite e oportunidade, a todos os oradores e participantes.

Rita Castanheira Alves

quarta-feira, 2 de março de 2016

A propósito da importância da auto-estima dos adolescentes - Todos temos o que precisamos cá dentro. Só que precisamos que alguém faça de espelho e nos mostre o que é

Cresci com o meu pai. A avó e o avô ajudaram e fiquei lá quase sempre aos fins-de-semana. A minha mãe, sem que eu percebesse o que era "partir para sempre", partiu de repente... E para sempre. A verdade é que me fez falta desde o momento que partiu. Era ela que nos mostrava o caminho, que iluminava a casa e apagava os sítios que não interessavam, fazendo com que não víssemos o que estava mal.
Quando partiu, deixámos de ter a iluminação da casa e a escuridão no que não interessava. Ficámos sozinhos, o meu pai refugiou-se no trabalho, dia após dia, por vezes até à noite e eu habituei-me a ter, desde pequenino, de acordar sozinho, fazer o meu pequeno-almoço e ir para a escola. Precisava de atenção e mimo, mas o meu pai passou a silenciar as emoções, ou se calhar nunca lhes deu voz, só que a minha mãe tirava a luz desse facto, para que eu não notasse. O meu pai dizia-me que tinha de cumprir, mas nunca ninguém me ensinou a fazê-lo. Eu não aprendi a chorar, até porque não tinha quem me limpasse as lágrimas, por isso substitui as lágrimas por desafio, oposição, desinteresse e perturbação nas aulas, para que não me abandonassem e assim o meu pai não parasse de olhar para mim. Fui aumentando em altura e também em comportamentos maus e negativas. Diziam que tinha de tomar medicação para ter atenção e estudar, mas na verdade, eu não percebia para quê, não tinha jeito nenhum para aquilo, não fazia ideia do que era suposto fazer e provavelmente não ia saber fazer. Com estas ideias, fui crescendo, e hoje percebo que faltava dentro de mim a crença de que era capaz, de que eu valia a pena e de que estava à altura. Afinal, o meu pai nunca lá estava para ver que eu estava à altura, por isso era mesmo melhor não estar para que ele pelo menos assim fosse estando. Hoje sei que ele não conseguia fazer de outra forma, mas tinha tanta vontade que ele estivesse lá mais vezes, que olhasse para mim e se orgulhasse e visse como eu jogo bem. Mas ele nunca queria e dizia sempre que estava chateado porque eu não fazia nada na escola. Se ele soubesse como eu era bom a jogar, talvez se espantasse.
Um dia, com umas ajudas, fui mudando e parece que dentro de mim, passei a ter alguma coisa que valia mais, que me convencia que era importante sair-me bem no que fazia, ser bom aluno, conseguir cumprir o que me propunham e passei a ser o melhor aluno do curso. Ouvi o meu pai pela primeira vez a dizer que ficou orgulhoso numa reunião de pais e senti-me corar e desconversar. Dentro de mim o coração bateu como eu nunca tinha sentido e é como se tivesse aumentado o tamanho do meu peito, como se estivesse cheio, quase como quando ganho a jogar na minha consola. Acho que no fundo o que precisei foi que alguém me dissesse que eu valeria a pena, o que precisei foi que, mesmo não sabendo falar dessas coisas, ficando esquisito, ouvir que era capaz, que era o miúdo que conseguia fazer os trabalhos que me propunham, colaborar nas aulas, ter alguém que me tratasse como se acreditasse que eu era capaz. Mais do que eu. Depois, acho que devagarinho, comecei eu a acreditar mais. Aprendi nas consultas, nas conversas que pareciam desinteressantes entre a psicóloga e o meu pai que isso se chama auto-estima... Ou lá o que é... Mas ao que parece agora já a tenho. Só sei que é bem melhor assim.
  
Promover a auto-estima é trabalho de todos os dias, de forma espontânea, programada, pensada ou automática. É importante é que seja feito com a sua ajuda e ainda mais quando se trata de miúdos na fase da adolescência. De todas as maneiras, de forma criativa, com experiências diversas ou simplesmente com um piscar de olho, não esquecendo a imagem mas fortalecendo a auto-estima muito para além da embalagem. É preciso ir lá dentro e construir um valor próprio, de fora para dentro, até ficar num circuito de retroalimentação que funcionará por si próprio.

Rita Castanheira Alves

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O Zé Zangado em muito boa companhia Nas Nuvens...

No Sábado passado, dia 20 de Fevereiro de 2016, a convite da equipa da fantástica loja Nas Nuvens, com quem já colaboro há algum tempo, estive a dinamizar uma actividade para famílias em que o Zé Zangado foi a estrela.
Pais, mães, avós e crianças estiveram comigo para uma tarde tão completa, em que a leitura do Zé Zangado animada e cheia de contribuições foi a primeira iniciativa, que nos ajudou a todos e especialmente aos miúdos, a perceber que toda a gente se pode, às vezes transformar em "Zangado" e que há muito a fazer quando isso acontece.

Depois de conhecermos a história do "Zé Zangado", com a ajuda de uma caixa cheia de magia, canetas, revistas, lápis de cera, tesouras, olhinhos animados, lápis de cor, autocolantes, cada família construiu o seu primeiro livro, em que a Zanga, de todas as maneiras e em que a imaginação foi o limite, foi a protagonista.

E posso dizer-vos que surgiram histórias fantásticas, do "menino aborrecido", à história "Uma zanga", passando pelo conto "Não quero", até à história do "Didi" ou da "Titiz", entre tantas outras.

Partilhámos no final com o grupo, os livros fantásticos que cada família construiu e todos levaram para casa, com o convite para os terminarem. Porque um livro não se faz assim todo de uma vez! Ainda estou curiosa para ver como ficaram terminados!






Eu gostei muito de poder partilhar o meu "Zé Zangado" e conhecer as histórias das famílias fantásticas que quiseram vir passar uma tarde dedicada ao desenvolvimento emocional dos miúdos, ferramenta essencial para um bom crescimento!

Quem não pôde estar, aqui ficam os registos fotográficos possíveis de alguns dos nossos momentos, com a vontade de repetir e porque ao vivo é bem melhor! Quem sabe com a Maria do Medo e o Filipe Feliz!

O meu muito obrigada à Maria, Susana e Filipa pela ajuda e a todos os pais, mães, avós e miúdos que fizeram da nossa tarde, um momento muito rico e especial!

Até breve!
Rita Castanheira Alves

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Apresentação da Colecção Infantil Emoções e conversa com educadores e professores - Agrupamento de Escolas de Póvoa de Santa Iria



Ontem, dia 15 de Fevereiro de 2016, a convite da Associação de Pais e do Serviço de Psicologia do Agrupamento de Escolas de Póvoa de Santa Iria, estive a apresentar a colecção infantil Emoções aos professores e educadores que quiseram saber mais e que consideram o desenvolvimento emocional fundamental para o crescimento saudável e para a aprendizagem dos alunos.
O Filipe Feliz, a Maria do Medo e o Zé Zangado foram comigo e serviram de pretexto para uma conversa tão importante e rica sobre a importância do desenvolvimento emocional, estratégias de o implementar em sala de aula, desde o Jardim-de-Infância, sua integração nos conteúdos de aprendizagem e como os livros podem então ser uma ajuda para isso mesmo e como. 

Muitas considerações se fizeram, ideias novas e possíveis de aplicar de lá surgiram e a prova de que o diálogo, a troca de experiências e de ideias é a chave para um excelente trabalho de quem tem a grande responsabilidade de educar, ensinar e ajudar a crescer os mais novos. 

Obrigada a todos os que participaram. Gostei muito.

Fica a ideia para outras escolas, instituições. Estarei disponível, à distância de um email ou telefonema. 

Rita Castanheira Alves

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Vamos brincar ao Carnaval em casa? Um desafio de troca de pais e filhos

É Carnaval!

O desafio da Psicóloga dos Miúdos neste Carnaval é:

- Sentem-se em família e proponha uma ideia que vai deixar os pequenos a rir e os adolescentes a dizerem: "-Daahhh..." Mas não faz mal, é Carnaval ninguém leva a mal.

- A mãe, o pai, os pais, as mães, os pais mascaram-se de filhos e os filhos de pais. Mesmo à séria, não é só imitar. Devem imitar o cabelo, trocar de roupas, pôr acessórios. Tudo à séria!

- Numa tarde, numa manhã, ao almoço, ao jantar devem mascarar-se criteriosamente e fazer de filho ou fazer de pai, o que interessa é trocar.

- Não vale criticar, ficar zangado ou não saber aceitar. É Carnaval!

- No final, podem falar sobre a experiência: dificuldades, emoções sentidas, facilidades, conclusões.

A troca de papéis, o distanciamento, a observação de nós mesmos, é de extrema eficácia na mudança comportamental, na resolução de conflitos relacionais ou na regulação emocional.

E já agora, divirta-se!

Fica o desafio!
Estranho? Talvez. Mas muito eficaz!

Votos de Feliz Carnaval!

Rita Castanheira Alves

Fonte da Imagem: http://amarguras-amarelas.blogspot.pt/2015/02/fantasias-mae-e-filha-para-brincar-o.html

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Para o meu pai, sou SÓ uma desilusão

Hoje falei com o meu pai. Fiz tal e qual como tinha falado com a minha professora, cheguei, respirei fundo, olhei para ele e disse-lhe: "- Pai, tenho de falar contigo. Quero contar-te uma coisa."
Como eu tantas vezes insisti, lá veio o grito, o sopro de saturação e aquele olhar que me faz de imediato querer recuar no tempo e não ter decidido tentar, ter optado por ficar calado.

Mesmo assim enchi-me de coragem e já tinha mesmo começado, resolvi continuar: "- Desde há uns meses que, por alguns motivos, não me sinto bem... Não sei bem como explicar..."
E de imediato outro sopro, outro grito e a impaciência que me assombra. Interrrompeu-me e disse-me: "- Já chega de desculpas e vitimizações para as notas que tens tido. A preguiça justifica-se por si só e não venhas com existencialismos."
 
Senti as lágrimas a tremerem e a quererem vir espreitar e toda eu fiquei tenso e de rastos. Como eu tinha dito à DT não vale mesmo a pena, ele nunca vai querer ouvir e perceber o que se passa, na verdade eu sou só uma desilusão.
Mais uma vez, calei-me, interrompi a respiração para não permitir que as lágrimas saíssem e fui para o quarto.
 
Ainda o ouvi entre dentes refilar e dizer: "- se estudasses não precisavas de desculpas..."

E não estudei. Chorei e confirmei(-lhe) que não vale mesmo a pena, ele não iria mesmo entender. 
Sou só uma desilusão.

Rita Castanheira Alves

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O Namorado da minha Filha

A Fátima é mãe de uma adolescente de 17 anos, a Marta. Vivem as duas, o pai da Marta vive longe há alguns anos, desde o divórcio do casal e o contacto é esporádico.
A Fátima traz a Marta à consulta e desde os primeiros minutos de conversa é possível identificar que há discórdia entre mãe e filha relativamente ao tema "namoro".

A Fátima, mãe, quase de costas voltadas para a Marta, explica-me que não gosta do namorado da filha: "- É preguiçoso, ciumento, uma má influência para a Marta. Não tem objectivos, não tem grandes interesses."
A Marta permanece calada, é uma miúda sensível, com uma expressão triste, encolhe os ombros perante as afirmações da mãe e só fala quando questionada.
A Fátima esclarece: " - Estou preocupada, quero o melhor para a Marta e sei que este não é o rapaz para ela, não traz nada de bom."
Percebo ao longo da nossa conversa, com a ajuda de ambas, que se relacionam num jogo entre a cumplicidade e a discórdia, a preocupação mútua e a distância criada pela diferença geracional e vivências de cada uma, que a Fátima se recusa a conhecer o namorado da Marta, afirma não conseguir estar com ele e não querer fomentar de forma nenhuma a interacção e convívio com o namorado da filha: " - Não quero, nem consigo, não vou nunca aceitar."
A Marta fica só comigo. Fica de imediato com os olhos molhados, agitada com as afirmações da mãe e também com a partilha dos episódios que a constrangeram: " - A minha mãe não quer aceitar, nem quer sequer conhecê-lo melhor. Às vezes, quando percebe que estou a falar com ele, grita comigo e faz com que eu desligue o telefone. Fico triste, preocupada, sinto-me sozinha. A verdade é que não quero a minha mãe longe, distante mas nunca consegui ter um namorado e pela primeira vez, sinto que consigo ser eu mesma com alguém e sinto-me gostada."
Nas partilhas que vão fazendo, compreendo a história relacional da Fátima, marcada por desgostos, relações com o sexo oposto pouco felizes, vivências de pouca ou nenhuma confiança. Compreendo e sinto uma mãe preocupada, uma filha que pela primeira vez se sente e se permite ser gostada, e que não quer prescindir disso neste momento, mas uma relação mãe-filha cada vez mais distante e desgastada. Uma relação que sempre foi próxima, de companheirismo, nalguns momentos talvez mais do que o necessário, de duas mulheres, uma grande e outra mais pequenina, ou quem sabe as duas pequenas, unidas, mas com um distanciamento cada vez maior perante a primeira relação amorosa da mais nova, da filha.
A Fátima fica sozinha comigo, a Marta sai por momentos: " - Ela está a deixar tudo de lado por causa dele, parece que só ele interessa e eu irrito-me, aquilo não vai dar nada, ela tem de perceber e enquanto não percebe, eu aborreço-me com ela. Mas é porque me preocupo e tenho de fazer qualquer coisa."
Em casa, percebo que se antes conversavam muito e partilhavam tudo, actualmente não acontece. A Marta fala muito com o namorado e a Fátima perante o silêncio maior da filha e a reprovação do namoro, deixou praticamente de lhe falar e mostra desagrado quando a Marta tenta falar com ela e partilhar alguns acontecimentos, especialmente relativos ao namorado. A Marta chora por isso e diz que se sente desprezada, como se a mãe estivesse a culpá-la por uma coisa que, por enquanto é boa.
É neste jogo, em que sinto que parece que alguém tem de ganhar, que é preciso parar, a mãe e a filha, mas por mais que custe, especialmente a mãe. Parar a mãe e confrontá-la, num exercício tranquilo, sem culpabilização, de algum distanciamento emocional da situação, com o que pretende (intenção) e o que está realmente a conseguir (resultado). Rapidamente, juntas percebemos que a intenção é a melhor: a preocupação com a entrega total da filha Marta, frágil, a alguém que não merece e "não serve" para ela, movida também pelos próprios receios da mãe enquanto mulher, mas que o resultado está a ser o pior: o aumento constante do distanciamento entre ambas, o isolamento da Marta em casa, a possibilidade de, se realmente o namorado não é bom, o pedido de ajuda ou desabafo não ser feito à mãe, porque se gerou uma batalha e não um apoio e suporte.
De repente, torna-se claro para a Fátima, enquanto mãe que terá de ser a primeira a parar, se quer então levar a sua intenção da melhor forma, alertando que é momento de saber que já não será fácil ou pelo menos, não produtivo, proibir, censurar, desprezar, porque são 17 anos e não 7. É tempo de orientar, aconselhar sem julgar, apoiar, estar por perto e disponível, optando por ouvir coisas feitas que fazem dar a volta ao estômago, mas dessa forma é mais eficaz. A Fátima confundiu estar ao lado da Marta, com o receio de estar a aprovar, como que a dizer: " - Continua porque ele te trata mal e eu estou ao teu lado como se nada fosse.", e isso foi afastando-a da filha e a filha da Fátima.
A Marta percebeu as intenções da mãe e reconheceu que, ainda que aos 17 anos, não seja sempre fácil, ainda mais quando se está apaixonada e nos sentimos admiradas e que o merecemos pela primeira vez, sabe que está "muito agarrada" a este namorado e que se tem afastado ou deixado de lado algumas coisas importantes e que o facto de nunca ter gostado muito de si mesma pode ser um factor de risco para relações menos boas. No entanto, aos 17 anos, neste caso, não é fácil ser objectiva ao ponto de deixar aquele que nos admira, nos elogia e nos faz sentir especial. Às vezes, nem aos 47.

Parece difícil, e é mesmo, para a mãe Fátima continua a ser, mas com muito esforço e o confronto com o que estava realmente a acontecer, aproximou-se da Marta novamente. As discussões diminuíram, continua a não gostar do namorado da filha e a ter dificuldade em ouvi-la falar sobre ele. No entanto, a Marta fala dele, partilha o que é tão bom, mas também já partilhou o que correu mal e abriu-se assim a oportunidade, para agora sim, a intenção de mãe começar a ser realmente cumprida, da melhor forma possível aos 17 anos: orientando, aconselhando, não julgando e estando sempre ali, para escutar e se for preciso, sim, também abraçar, mesmo que o que esteja na cabeça de mãe seja:
"- Eu já sabia, bem te avisei."

Afinal, que bom seria que também as mães aos 40, 50 ou 60 pudessem ter um abraço da sua mãe, que escuta, não julga e ainda orienta, mesmo quando é um disparate.

Rita Castanheira Alves

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

De regresso à vida, em paz e com novas forças. Um Ano muito Feliz.

Depois de um ano tão cheio, tão grande, tão intenso e com tantos desafios, nas últimas semanas de 2015 foi obrigatório descansar. Fui só ali um bocadinho, ser Feliz. Ainda mais.

Porque tentar ser feliz e fazer disso uma prioridade é obrigatório. Porque ser feliz é saúde mental e porque ser feliz nos ajuda muito e ajuda ainda mais quem gostamos e quem cuidamos. 

Fui só ali um bocadinho ser feliz e repôr as forças. Já voltei, com nova energia, novas inspirações e disponível para continuar a caminhar convosco. E feliz.

Um ano muito, muito feliz. 
Cá estou para tentar convosco. 

Rita Castanheira Alves