segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O que NÃO dizer ao seu filho neste ano lectivo


São muitos desabafos, irritações, perguntas e ralhanços que mesmo sem se querer, se diz quando se tem filhos em idade escolar. Mas vale a pena lembrar, que apesar de tentadores, são verdadeiros destruidores de sucesso, felicidade e saúde mental do tempo escolar.


Chamei-lhes: As tentações de pais a evitar este ano lectivo.

Sim! Até e principalmente dos pais, que querem todo o sucesso e felicidade dos filhos.



  • Já te esqueceste do ano passado? Vê lá se vai ser igual...

Águas passadas não movem moinhos. Só o lembrará do que não correu bem, que certamente já foi falado, punido e por isso deve ser arrumado e não voltado a relembrar, provavelmente apenas trará uma atitude que não será em nada proveitosa;



  • Estou para ver o que vai ser este ano, olha que as minhas expectativas estão mesmo lá em baixo!

Se o pai/mãe for o primeiro a pôr as expectativas excessivamente baixas, provavelmente o seu filho corresponderá às mesmas, porque sai da casa partida com receio, pouco entusiasmo e como se o ano lectivo fosse uma competição dura, aborrecida e zangada, em que parece que o primeiro lugar já está ocupado.



  • És uma desilusão.

Os filhos não servem para des(iludir) os pais, esse não poderá ser o papel de nenhum de nós, nem de nenhum deles. E na verdade esse desabafo serve para quê?



  • Eu já sei que não vai ser excelente, mas pelo menos vê lá se fazes o mínimo.

Não acreditar na capacidade do seu filho e mostrar que se duvida é receita certa para que seja mesmo só cumprindo o mínimo. E ainda por cima sem qualquer efeito positivo na auto-estima.



  • Não fazes mais do que a tua obrigação.

E será mesmo uma obrigação? E será que aos 11 anos é útil sentir que é uma obrigação? Os adultos que trabalham também gostam de sentir que mesmo o trabalho podendo ser obrigatório, pode ser cativante, envolvente e sentir-se bem no mesmo. E será que quando têm um desempenho muito bom no trabalho não é mais do que a sua obrigação?



  • Abaixo de 85% é péssimo.

Cuidado com o que se exige e com o recurso aos extremos e exageros. Costuma desmotivar de forma eficaz e ainda por cima contribuir para a prejudicial sensação de constante insatisfação e falha, receitas excelentes para construção de fraca resiliência e baixa auto-estima.



  • Quero ver o que fazes para mim este ano.

Os filhos não “fazem” resultados escolares para os pais.



  • Quando eu era da tua idade, era tudo bem mais difícil e eu conseguia sempre ser bom a tudo.

Os exemplos da nossa infância e adolescência podem ser inspiradores, cativantes e entusiasmantes para os filhos, mas não quando são usados de forma a que sintam que constantemente não conseguirão “chegar” onde os pais chegaram.



  • Tens excelentes notas a Educação Física mas isso não conta.

Não vem na pauta? Não é uma disciplina? Não envolve competências essenciais? Não pode contribuir para a auto-estima, empenho e motivação do seu filho? Não pode ser essencial para o futuro?



  • Tens de ler este livro porque o ano passado não estudaste nada, é um castigo.

Ler é uma actividade tão importante e tão rica, mas se for posta como um castigo, provavelmente nunca o será, de forma alguma, em tempo algum.



  • Não, não há tempo durante a semana para mais nada, sem ser escola, trabalhos e estudo. O que queres?

Provavelmente terá de haver, nem que seja meia hora. Como se sente quando passa por isso  dia após dia?



Vale a pena tapar a boca e reformular as frases ou simplesmente, reflectir antes e escolher conscientemente quem quer ser e como quer estar com o seu filho neste ano lectivo.



Rita Castanheira Alves

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Segredos para que o seu filho seja um aluno brilhante este ano lectivo? Então todos os dias... Esqueça a escola



O ano lectivo chega e a escola domina as casas das famílias com filhos em idade escolar. E geralmente domina de forma pesada, excessiva e pouco eficaz. Todos querem que os miúdos sejam bem sucedidos, mas às vezes, há grandes hábitos que são esquecidos e levados pelo cansaço, pela prioridade, pelo stress. E muitos deles envolvem deixar a escola... Na escola. Um bocadinho, todos os dias. 

  1. Um elogio por dia não sabe o bem que lhe fazia: todos os dias encontre uma razão para elogiar o seu filho. Sim, mesmo que a razão que encontre seja muito pequenina e pareça insignificante, terá muito significado para o seu filho e fará magia. Sim, mesmo nos dias que houve uma queixa ou uma nota mais baixa;

  1. Conheça o seu filho: encontre formas de saber quem é o seu filho, muito além de ser aluno e de querer muito que esteja atento, não faça disparates, estude e mostre o que vale. Que música ouve? O que faz nos intervalos? De que cor gosta? O que pensa? Será que se sente feliz? Precisa de ajuda? Qual o passatempo favorito? O desafio é conseguir ter conversas com o seu filho que não envolvam notas, estudo e testes;

  1. Riam juntos: não se esqueça de se rir com o seu filho, mesmo quando há horários a cumprir, as manhãs são difíceis e os trabalhos-de-casa parecem infinitos e já é hora de ir dormir;

  1. Transmita-lhe confiança e coragem: Não passe a vida a dizer-lhe: “- Assim não dá, já sei o que vai acontecer, vai ser igual ao ano passado pelo andar das coisas e da tua postura.” Isso só o alivia a si, como desabafo e frustra mais o seu filho ou ainda o “desliga” mais dos seus objectivos académicos. Vibre com ele, transmita-lhe confiança e coragem, mostre que acredita no que ele é capaz e ajude-o a encontrar pontos positivos no empenho e trabalho;

  1. Um dia por semana, esqueçam os trabalhos-de-casa, o estudo, o jantar e até, quem sabe, o banho: num dos dias da semana opte por salada, pizzas, sopa ou tostas. Ninguém ficará doente, perdido, desorganizado se uma noite por semana fugir à rotina, ao jantar, às obrigações. O objectivo é estarem em família, esquecerem o dia difícil e usufruírem da companhia uns dos outros, deitados no sofá ou no tapete a jogar, ou na cama a fazer festinhas e a conversar. Sem qualquer eficácia, se os pais tiverem a tentação de usar esse tempo para ralhar, fazer sermões ou estiverem “amuados”;

  1. Acredite quando atribui e divide tarefas: divida tarefas com os filhos: contar guardanapos, fazer listas de comprar, dobrar meias, levar roupa para o quarto ou dobrar toalhas, só é preciso saber contar e já agora treina a motricidade. Mas quando atribui, encare o momento com seriedade, acreditando no que está a fazer, com entusiasmo e nos primeiros tempos, ajude, relembre, mas não desista.

  1. Olhe para o seu filho: olhe, mas olhe mesmo, olhos nos olhos, todos os dias, com aquele olhar de “Estamos juntos, dê por onde der.”

Vale a pena experimentar. Um dia, hoje ou amanhã, o seu filho vai agradecer.

Excelente ano lectivo!

Rita Castanheira Alves

FOTO: http://summercupcake.blogspot.pt/2013/01/depoimentos-para-pai-fake.html

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Porque no Pré-Escolar há muito para fazer e aprender, antes de ler e escrever

Mais uma colaboração da Psicóloga dos Miúdos, desta vez, com a Revista Visão, na edição publicada ontem, Quinta-feira, dia 3 de Setembro. Um artigo sobre o ensino pré-escolar. Uma participação muito breve, mas num tema que deve ser pensado, reflectido e debatido. 

Já leram?


terça-feira, 1 de setembro de 2015

Porque "desenvencilhar-se" faz parte da vida e do crescimento...


 Como prometido partilho as perguntas e respostas completas que serviram de base às opiniões do artigo da Revista Sábado "Se estiveres longe de mim, faz isto". 

Porque aprender a ser "desenvencilhado" é importante!

1.     Acredita que é necessário os pais conversarem com os filhos sobre situações limite e o que devem fazer? Seja perderem-se no supermercado, serem abordados por estranhos ou verem o pai/mãe sentir-se mal e sabe o que fazer…

Acredito que é importante à medida que as crianças vão crescendo e estando em diversos contextos, ir dando-lhes a conhecer as realidades em que estão, suas características, ajudando a antecipar situações e o que elas envolvem, ajustando ao nível de desenvolvimento da criança e sempre com alguma tranquilidade. O objectivo é ajudá-las a agir e não a bloqueá-las.  

2.   É saudável para as crianças pensar no que pode acontecer ou por outro lado pode causar ansiedade?

Depende da forma como for feito, conversado e apresentado. Se uma criança está numa fase normativa de medo excessivo de se perder dos pais pode ser extremamente ansiogénico acrescentar novos dados e informações sobre a possibilidade de se perder. No entanto, nunca falar nem prevenir, nem a informar nem capacitar pode comprometer de certa forma a sua autonomia, a sua capacidade de sentir que tem controlo, a capacidade de resolução de problemas e é capaz em situações mais difíceis. Por vezes, aproveitar as situações do dia-a-dia e de forma tranquila e sem catastrofizar é uma excelente forma de ir conversando sobre perigos. 


3.   A partir de que idade acha que é razoável ter este tipo de conversas? Ou pode ter-se desde muito cedo desde que se adapte o discurso?

A idade é importante mas mais do que isso, é conhecer as características da criança, o seu nível de desenvolvimento emocional, cognitivo, social e pessoal. Adaptar sempre o discurso, para que a criança compreenda e o objectivo seja cumprido: muni-la de estratégias de resolução de problemas e dar-lhe controlo e autonomia. Fazê-lo gradualmente, para que o excesso de autonomia não se transforme em ansiedade excessiva ou preocupações constantes que não são para as crianças. 

4.   E deve ser um discurso sério ou, em certas ocasiões, mais como se fosse um jogo para eles captarem melhor?

Tudo depende da criança, da sua idade, nível de desenvolvimento e características individuais. Ser criativo na educação pode trazer muitos ensinamentos às crianças e ao mesmo tempo, conversar com elas com alguma seriedade (seriedade não significa rigidez ou autoridade) desde pequenos quando é necessário também é importante. Aproveitar situações do dia-a-dia, algum filme ou uma história de um livro ou uma notícia pode ajudar. Com os adolescentes, resulta entrar no quadro de referência deles e adaptar o que se pretende transmitir ao que gostam e lhes chama a atenção. 

5.   Agora que estamos ainda em época de férias, a que devemos ter maior atenção na praia ou em passeios no campo? Que estratégias podemos adoptar?

É um excelente momento para estarmos com mais disponibilidade e calma com os filhos e conhecê-los melhor. São oportunidades para os ajudar a desenvolver autonomia, arriscar e ajudar a ponderar riscos e resolução de problemas. Ajudá-los a serem eles a “levar-nos” no caminho do passeio, para aprenderem eles o caminho, a dizerem como está o mar, que bandeira está, perguntar-lhes a cor do chapéu de sol e a perceber em que sítio está, a proporcionar novas experiências em que a ajude a arriscar com consciência. 

6.     Em alguns artigos estrangeiros encontrei o que se deve ou não fazer. “Não fales com estranhos” era algo que diziam para não fazer – e, por outro lado, especificar, “não vás a lado nenhum sem pedir autorização ao pai e à mãe”. Na sua opinião, quais são as regras a decorar, do que se deve e não deve fazer?

Acima de tudo, ajudar com o maior equilíbrio possível, a educar crianças e adolescentes conscientes, capazes, autónomos, que arriscam mas ponderam os riscos e que reflectem, que questionam dentro do que conseguem antes de agirem, que confiam nos pais e no que estes lhes dizem, especialmente na infância. Acima de tudo, criar o hábito de conversar em casa sobre o que se faz, pensou ou se anda a fazer, seja certo ou errado, bom ou mau. 

7. Tem encontrado casos deste género na sua vida profissional? 

Tenho encontrado de tudo: miúdos que até muito tarde não desenvolveram a autonomia, ficam aflitos perante a imprevisibilidade, que não sabem lidar com nenhuma situação nova, que são sobreprotegidos até muito tarde, mas também miúdos que desde demasiado cedo resolvem tudo sozinhos, seja assuntos de “crianças”, seja de crescidos e isso também os obriga a crescer excessivamente rápido.
Da minha experiência clínica, pais que conversam em casa, que acompanham, que proporcionam novas experiências adaptadas à criança/adolescente e ao seu nível de desenvolvimento, que os ajudam a sair da zona de conforto, sem sair da zona de segurança, que os ajudam a errar e a arriscar, que criam situações novas, que conhecem a realidade dos filhos e conseguem lembrar-se como é ser mais novo, proporcionam melhores ferramentas para os filhos serem mais capazes na prevenção de situações perigosas ou imprevisíveis.