segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Sete Ingredientes para um Natal mágico e pedagógico para os miúdos


Andamos na rua, e começa a cheirar a Natal. Porque há luzinhas nas montras, árvores de Natal e bolas, renas, gorros de pai natal. Começa a época das compras de presentes e os miúdos a serem invadidos por anúncios apelativos de brinquedos nunca vistos e de jogos há tanto desejados. Começa a corrida às compras, ao rechear a base da árvore de Natal de prendas e o mais importante passa ao lado e daqui pouco já estamos em 2015.
Aproveite o Natal para mais uma vez transmitir bons valores aos mais novos. Aqui ficam sete ingredientes para um Natal positivo, pedagógico, divertido e de grande contributo para o crescimento dos seus filhos.

1. Transmissão do verdadeiro significado do Natal – cada casa, seu significado, acima de tudo saber cuidar

O Natal é uma época vivida de formas distintas por cada família, havendo mesmo famílias que por questões religiosas não festejam o Natal.
As que festejam têm para si um significado particular do Natal, que depende da educação, da tradição familiar, da existência e da prática ou não da religião.
Não há uma resposta certa uma vez que não há apenas UM verdadeiro significado do Natal. É importante sim que as crianças percebam o que é o Natal, de onde vem, o que simboliza e que seja um conceito e uma época partilhada com a restante família/amigos/cuidadores.

2. O consumismo do Natal – ajudar o seu filho a lidar com tanto apelo publicitário

Esse é um trabalho diário, de todos os momentos com a criança. Apesar da publicidade ser mais proeminente durante a época natalícia, as crianças actualmente estão bastante expostas ao grande apelo publicitário. Como tal, esse é um trabalho do todo o ano: mediar a emissão da informação publicitária e a forma como a criança a recebe e o que faz dela e fora da publicidade, ter todos os cuidados com a forma como a criança trata os seus brinquedos, faz uso dos mesmos, aproveita um brinquedo, desfruta do mesmo.

3. O Natal é solidário – aproveitar a época para desenvolver a solidariedade
As acções de solidariedade, de construção da sensibilidade para a existência do outro, das condições diferentes em que outras crianças/pessoas vivem é sempre essencial para a construção do altruísmo, do combate à indiferença, da justiça na personalidade. Ao longo de todo o ano, os pais podem realizar acções envolvendo as suas crianças, não tendo de ser apenas uma acção reservada à época do Natal. No entanto, no Natal, aproveitando o facto de ser uma época de dar, porque não fazerem uma arrumação ao quarto e escolher brinquedos e roupas para quem não os tem, mas precisa? 

4. A Carta ao Pai Natal – escrever ou não escrever

A carta ao Pai Natal pode ser um documento que fortalece a fantasia e o imaginário das crianças, condições essenciais e importantes no seu desenvolvimento, como tal poderá ser escrita.
Quando bem aproveitada, é uma excelente ferramenta para explicar à criança um conjunto de valores e ideias: a partilha, a necessidade de tomar decisões, a escolha, a frustração… Os pais ao explorarem a carta da criança ao Pai Natal podem de uma forma adaptada à fase de desenvolvimento da criança desenvolver estes valores com ela e reflectir com ela sobre estas questões. Em simultâneo está a ser permitido à criança que desenvolva o seu imaginário e fantasia, tão importantes para o seu desenvolvimento, e ao mesmo tempo, que lhe comecem a ser incutidos valores essenciais para a sua vida e para a realidade em que está a crescer.
Quanto à explicação das crise financeira, como qualquer assunto da nossa realidade e que afecta o dia-a-dia da criança, poderá ser abordado de forma simples e adaptada ao seu nível de compreensão e de maturidade emocional e não é necessário esperar pelo Natal para explicar. É importante que a criança seja atenta, curiosa mas não passar uma extrema preocupação para ela, mostrar-lhe sim que os adultos cuidarão da situação e que ela com a partilha, a compreensão, a poupança à sua maneira poderá também estar a contribuir bastante, valorizando-a por isso.

5. A escolha dos presentes – sugestões adequadas a cada faixa etária

Nos primeiros 6 meses, pode-se optar por brinquedos que poderão ser coisas que temos em casa, afinal tudo é novidade para a criança: tampas de tachos, molas da roupa, colheres de pau, só é necessário ter cuidado com a escolha de objectos desinfectados e não tóxicos. Nesta fase e porque começam a observar o que os rodeia, poderão ser construídas bolas de pano, com várias cores, padrões e tamanhos para pôr no berço, ao mesmo tempo que observam podem dar pontapés nas bolas e ver o seu movimento e pode ser posto um espelho inquebrável para se irem vendo embora ainda não se reconheçam. Pode pôr-se um papagaio de papel no carrinho, gostam de ver o movimento do papagaio quando vem o vento. Nesta fase, o som também é muito atractivo, podendo pôr-se no berço, no carrinho guizos com tamanhos, materiais e cores diferentes.
O livro, inicialmente de pano ou de um material maleável, depois em outros materiais deverá ser um objecto que acompanha a criança desde sempre, mesmo no berço e é um óptima ferramenta para interacção de pais e filhos, de desenvolvimento cognitivo, da fantasia, da criatividade e uma fonte de aprendizagem.
Dos 6 aos 9 meses, canções, rimas são muito adequadas a esta fase, para os bebés que já gatinham bolas de plástico para irem atrás delas. No banho, funis, batedor de ovos manual, copos, poderão ser extremamente divertidos e úteis para o seu desenvolvimento.
Entre os 12 e os 18 meses poderão ser escolhidos brinquedos que proporcionem o encaixar, o abrir, o fechar, blocos de borracha para arrumar e desarrumar. Os brinquedos com botões que dão luz, som, mexem-se são também indicados para esta fase. Quando começar a andar, brinquedos ligados à locomoção: cadeirinha de passeio, andarilho, carrinho de plástico, jogos com obstáculos para vencer. São também importantes nesta fase, os brinquedos onde podem bater, como o tambor ou o xilofone, para que desenvolvam a coordenação muscular grossa.
A partir dos 18 meses até aos 24 meses, para estimular o desenvolvimento cognitivo poderá optar-se por brinquedos/jogos como puzzles, contas grossas de madeira para enfiar numa corda, caixas para colocar tampas. É uma boa fase para desenvolver o jogo simbólico, telefones, fantoches, bonecos ou carros são excelentes brinquedos para o jogo simbólico e criatividade. Fora de casa, andar de triciclo, baloiço ou escorrega.
Aos 3 anos e 4 anos, privilegia-se os brinquedos que promovam a criatividade, o jogo simbólico, o desenvolvimento cognitivo e a curiosidade.
Aos 5 anos, poderão ser introduzidos brinquedos, jogos que possam contribuir para a preparação para a escolar: o quadro para escrever, os desenhos para pintar, os desafios cognitivos, os jogos.
Em qualquer idade e especialmente nos mais velhos, é essencial que a criança possa exprimir os seus gostos e interesses, lhe seja permitido o conhecimento de diversos brinquedos e jogos. Construir brinquedos com a criança poderá também ser uma boa escolha.
Além do livro ser transversal a qualquer faixa etária, a arte e a música também são essenciais e bons motores de desenvolvimento em qualquer fase: peças de teatro, exposições, concertos adaptadas a cada faixa etária são excelentes presentes para os mais novos. Afinal, são presentes a dobrar, porque oferecem a possibilidade de interagir com os adultos significativos.

6. Avós e tios oferecem tudo – regras e condições das prendas

Poderá ser útil, nomeadamente aos avós e tios que por vezes consultam os pais quanto ao que poderão oferecer, transmitir-lhe que valores estão a ser trabalhados com a criança, a importância de que ela consiga perceber que nem sempre é possível ter tudo e que é importante cuidar e apreciar o que temos.
De qualquer modo, e se se optar por não transmitir alguns cuidados aos elementos mais próximos da família, o importante é que esteja a ser desenvolvido com a criança valores como a partilha, o desfrutar dos brinquedos que tem, a escolha, o não ser possível ter tudo, construindo assim com ela a tolerância à frustração e o saber cuidar dos brinquedos que tem.

7. Mas afinal o Pai Natal existe? – a pergunta e a resposta

Enquanto a criança não questiona, os pais poderão respeitar a sua fantasia e a construção desse conceito que é o Pai Natal e até como referi anteriormente usá-lo para desenvolver um conjunto de valores na criança.
Quando a criança questiona possivelmente chegou o momento em que já percebeu que o Pai Natal não é real, é uma fantasia e poderá ser explicado isso mesmo, ou seja, mesmo crescendo e sabendo que o Pai Natal não é mesmo real, ele pode continuar a ser uma fantasia, uma personagem imaginada que aquece o Natal e o torna uma época mágica e de alegria.
É essencial os pais estarem atentos às perguntas das crianças, perceberem o que a criança está a sentir e pretende com cada uma das suas perguntas e conseguirem dar respostas para a tranquilizar e esclarecer.

Feliz Natal!

Rita Castanheira Alves

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Neste Natal ofereçam... ABRAÇOS embrulhados!

Neste Natal ofereçam...

ABRAÇOS. 

Material

- caixas de cartão;
- papel de embrulho;
- laços;
- cartões "De: Para:"
- caneta

Como fazer?

- Abram as caixas;

- Com os miúdos em casa, dêem abraços durante 1 minuto. Mãe ao filho, o irmão à irmã, o pai à mãe, a avó ao bebé;

- De seguida, cada um deve dizer aos restantes e à vez que abraço, dado anteriormente, quer pôr dentro da caixa;

- Fechem todas as caixas e embrulhem-nas a gosto;

- Coloquem cartões "De: Para:" indicando a quem enviam o abraço.

- Na noite de Natal, ofereçam as caixas com os abraços.


A não esquecer:

- os adultos devem estar convictos e entusiasmados com estas prendas;

- além de abraços, podem escolher pôr dentro da caixa beijinhos, mimos, festinhas, a criatividade é sempre possível e uma excelente ajuda;

- garanta que todos receberão uma caixa com um abraço;

- quando abrirem as caixas, quem ofereceu deverá dar o abraço à pessoa que o recebeu.


Uma brincadeira original, diferente, que ajuda a que o Natal aí em casa possa ter um significado bem maior do que receber todas as prendas do supermercado.

Feliz Natal e desejos de boas prendas! ;)


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Como promover a Bondade e a Solidariedade nos miúdos? - uma entrevista para a Revista Activa no mês do Natal


A convite da excelente Jornalista Catarina Fonseca, participei no número de Natal da Revista Activa. Uma entrevista sobre a bondade e a solidariedade nas crianças. Valores a promover nos miúdos, não só no Natal, mas obrigatórios durante todo o ano e mais além.

Na página 192, podem encontrar a entrevista. Por questões de espaço, naturalmente não foi possível incluir tudo na revista.
Daqui a uns dias, partilho convosco as respostas completas a cada questão. Até lá, vale a pena ler a entrevista, aliás, as entrevistas, à Psicóloga dos Miúdos e ao Pároco de Oeiras, Nuno Westwood. Excelente ideia e com respostas úteis para os pais dedicadas a estas questões.

Espero que gostem.

Rita Castanheira Alves

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Enquanto chove lá fora, mimem-se.

Nesta noite chuvosa, vamos "dar-nos" mimos. Mimos aos filhos, dos crescidos aos pequenotes, à mãe, ao pai, aos manos, a quem estiver aí em casa.
Vamos aproveitar que chove tanto lá fora e fazer um intervalo "nas vidas" de cada um: deixar de lado a pilha de trabalhos-de-casa, o jantar e os banhos para despachar, os emails por ler e os likes nas fotos do facebook. Vamos aproveitar e respirar. Juntos, comer cereais, torradas ou encomendar uma pizza, conversar, rir, dizer disparates e saber uns dos outros.
Com tanta chuva lá fora, estradas cortadas, inundações e um dia que ficou cinzento, vamos ser família e esquecer, por um serão, o que vem amanhã. Ouvir o miúdo mais novo e vê-lo fazer o novo truque de magia, pedir à do meio que nos mexa no cabelo e nos pinte as unhas, como tanto gosta, olhar para o mais velho e pedir-lhe que nos mostre a música que gosta, o que está na moda e o que é "cota". Vamos aproveitar que chove lá fora e ser curiosos com a vida dos nossos filhos e dos pais, o que os move, o que gostam, o que lhes apetece fazer e contar.
Deixar chover lá fora sem parar e aproveitar para fazer um intervalo e estar, simplesmente, estar em família. E sentir. Sentirem-se.
Ter a certeza que amanhã pode haver falta de TPC, o trabalho atrasado ou um teste abaixo do 70%, mas que daqui a muitos anos, haverá pessoas felizes, gostadas, satisfeitas e por isso bem-sucedidas.

Rita Castanheira Alves

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O meu filho não vibra de alegria. E eu vibro?

Mais importante é "sentir" o meu olhar de miúdo a brilhar. 
É sentir o coração a bater mais forte, porque depois de um dia de escola, vou poder ver o filme com o meu pai, sem falarmos em notas, nem em trabalhos. Só porque nos sabe tão bem preguiçar no sofá, sem mais nada. 
O mais importante é "sentir-me" a sorrir por dentro porque a minha mãe se espantou com os desenhos que agora gosto de fazer. Sentir entusiasmo porque depois dos trabalhos-de-casa vou poder surpreendê-la com mais um destes desenhos que inventei e que ela está sempre tão curiosa para ver. 
De manhã acordar e saber que a escola é importante, faz parte da minha vida, mas para além da escola, há muito mais com que posso preocupar-me e ocupar-me: a nova colecção que gostava mesmo de terminar, o almoço com os primos na cozinha sem adultos, a nova coreografia que estamos a inventar na aula de dança e a nova música que estou a inventar com a minha amiga no meu quarto. 
Sentir que me apetece continuar a viver e que a vida é uma coisa engraçada, desafiante, divertida aos 10 anos e que continuará a ser mesmo quando passarem muitos anos e for adulto. Sentir que há um mundo de possibilidades à minha frente.

Mais importante é "sentir" o meu olhar a brilhar, "sentir" o meu coração a bater de entusiasmo com coisas pequenas mas que nos deixam logo em pulguinhas a nós miúdos, "sentir" a vontade de viver e "sentir" vontade de me imaginar de 1001 formas quando crescer aos 15, aos 18 e aos 30 anos e ver um mundo de possibilidades. "Sentir" que me orgulho dos desenhos que faço, mesmo quando a Matemática não consigo passar do 60%.

E acima de tudo "sentir" o olhar dos meus pais a brilhar porque me vêem brilhante, feliz e entusiasmado, mesmo quando só consegui ter um 60%. Acima de tudo "sentir" que o olhar dos meus pais também brilham quando vamos todos para a mesa, para a galhofa porque o dia difícil de escola e trabalho já lá vai. Agora estamos em casa. 

Rita Castanheira Alves

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Tem muita coisa entalada na garganta?


Já basta tudo o que fica "entalado" e que tem mesmo de ficar. No trabalho, com os colegas ,com os chefes, com aquele cliente menos simpático e que nos põe em causa e ao nosso esforço. Já basta os "entalanços" fora de casa...

É importante dizer, não deixar "entalado" na garganta.  Exprimir em casa o que cada um sente. Não deixar de dizer. Não deixar de conversar sobre o que se passou. Mas nem sempre é fácil. Porque os filhos não vão perceber, porque vai dar novamente em discussão, porque está demasiado arrependido para lhe pedir desculpa por ter gritado consigo. Porque expressar emoções ainda é difícil. Porque raramente conseguem estar juntos. 
Mas não deixe "entalado", porque um dia, em vez de conseguirem falar, só vão gritar e culpar-se e embirrar com tudo. 
E se tiverem formas alternativas de se expressarem? 
Aqui fica uma ideia da Psicóloga dos Miúdos para as famílias.

Arranjem um quadro de ardósia e giz, um bloco com um íman para pôr no frigorífico ou um conjunto de folhas e uma caneta. Qualquer que seja a opção, o importante é estar num local frequentado por todos os elementos da família, como a cozinha.

Sempre que se lembrem, de manhã ou à noite deixem mensagens uns para os outros.  Uma estratégia que promove relações familiares mais saudáveis, que nos permite explicar o que às vezes não conseguimos explicar verbalmente, que permite “falar” sem que nos interrompam, que nos permite agradecer ou pedir desculpa depois de um dia mau.


Quantas vezes já escreveram uns aos outros? 

Rita Castanheira Alves

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Só pode bater, quem conduz...

Sou pai e só assim posso errar. Gritar mais do que devia, suspirar impaciente, não abraçar quando é preciso abraçar. E desesperar quando devia dar segurança.
Há dias mais difíceis. Porque além de ser pai, sou pessoa, tenho uma história que já podia encher as páginas de um livro cheio de peripécias, impasses, dificuldades, sou trabalhador e tenho tantos assuntos para resolver, emails por responder e querer todos os dias ser melhor, sou amante e quero mimar e ter tempo para dar beijinhos e continuar a namorar, poder lembrar-me do dia em que festejo o amor, sou amigo e ter tempo para os meus amigos. Sou pai e nem sempre o sei ser. Não há chips para pais, com a programação toda do que é preciso ser e fazer.
E por tudo isto e porque é um desafio a valer, ser pai é errar. É ter culpa porque tentei, porque não tive paciência ou porque é um dia não. É ter culpa porque hoje não li a história ou porque de manhã estava demasiado ensonado. Se não fosse pai, não podia errar com os filhos, não podia ter culpa.

É como quando se conduz. Só se conduzir é que corro o risco de bater ou o risco de bater e não acontecer nada de grave e ter viagens felizes, descontraídas, conhecer sítios incríveis e levar-me até lá e a quem posso levar comigo.
Se não conduzir, a culpa nunca será minha.
Se não conduzir, também nunca poderei levar-me a viajar e descobrir caminhos novos e felizes.

Rita Castanheira Alves

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

E quando for "normal" os adolescentes irem ao psicólogo?


E hoje uma das minhas clientes apareceu na consulta com esta camisola. Achei tão gira que pedi para tirar uma foto.
Garanto que não há uniformes disponíveis nas minhas consultas. ;)
Mas quem sabe se mais "miúdos e miúdas" usarem mensagens do género, a ida ao psicólogo não se torna (ainda) mais aceite e menos estigmatizada no meio dos adolescentes? Fica a ideia.
A verdade é que a maioria dos adolescentes, depois de ir as primeiras vezes, gosta, reconhece valor e utilidade e decide continuar.

Porque não tentar aí em casa? Com os miúdos adolescentes, vale a pena explicar, conversar e negociar: "- Acho que é importante ires por este, este e este motivo. Podemos fazer a experiência, vais a uma primeira consulta e depois decides se queres continuar."

Fica a dica para os pais de adolescentes.
Quem sabe se um dia também não usam uma camisola "Love my therapist"...

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Porque os pais são artistas, educadores, técnicos de motricidade e animadores...

A criação é de uma mãe, uma mãe que conheço há tanto tempo, quase como me conheço a mim. Com quem criei, inventei, sonhei, aprendi e cresci. Quem sabe, se um bocadinho da Psicóloga dos Miúdos não veio desta mãe, até antes de ser mãe. Estou certa de que sim.
Hoje tem 31 anos e é mãe de dois rapazes, quase, quase com 3 anos. Os dois sim, porque são gémeos.
Há uns dias fui lá a casa, como amiga, não como psicóloga dos miúdos. Fui lá conversar com a mãe, como amiga, e brincar com os miúdos como amiga também, que é tão bom.
E descobri que tinham feito... Fantoches! Fantoches de pés e de mãos! Os gémeos com a mãe. Folhas de papel, canetas, palhinhas e fita-cola. Tão simples, mas tão rico. Uma actividade inventada por uma mãe, que ocupou uma manhã e que fez sorrir os miúdos e ajudou-os a desenvolver a imaginação, a criatividade, a motricidade e o carinho de manos e mãe. E muito mais coisas, certamente.

Como amiga, adorei e não esperava o contrário desta mãe. Como Psicóloga, admirei e quis partilhar. Afinal, os pais podem mesmo ser os verdadeiros artistas, educadores, técnicos de motricidade, animadores. E só com palhinhas, folhas e canetas.

Que tal experimentar aí em casa? Fico à espera de partilhas de actividades simples, mas tão grandes e completas.

Rita Castanheira Alves


domingo, 19 de outubro de 2014

Como se fala da morte de um(a) pai/mãe com uma criança? Perguntas e respostas de ajuda num tema tão difícil



      Um tema difícil. E que sabemos, será sempre difícil. Mesmo quando crescemos, continua a ser difícil.
      Não queremos nunca que aconteça... E quando acontece? Quando se é pequeno e o pai ou a mãe morre? Como se fala sobre isto? Fala-se? O que se faz?

     A Revista Sábado pediu a minha colaboração enquanto Psicóloga (dos Miúdos), para responder a algumas perguntas e a semana passada, o artigo foi publicado. Há sempre limitação de caracteres, participações de outros profissionais e testemunhos, pelo que a maioria do conteúdo das respostas que elaborei, não foi publicado.  

     Não queremos pensar muitas vezes neste tema, nem queremos ter que saber o que fazer, mas sei que, infelizmente, pode ser útil para algumas famílias. 

    - Quando uma criança perde um pai ou mãe deve-se esconder até estarem preparados para dar notícia?

A vivência da morte de alguém que nos é próximo e querido é sempre dolorosa e difícil, independentemente da idade. Especialmente se for do pai/mãe presentes.
Como tal, os adultos também estão num momento emocional muito difícil e de grande sofrimento e também eles precisam de encontrar um momento para se sentirem o mais preparados e estáveis possível para conseguirem apoiar e securizar a criança e apoiarem-na no seu luto. Deste modo e sendo também difícil para os adultos, a notícia de uma morte não deve ser adiada por tempo indefinido, mas o adulto poderá necessitar de algum tempo e algumas condições para se sentir o mais possível capaz de apoiar e transmitir a notícia à criança e falar sobre o assunto. No entanto, não podemos esquecer que as crianças, apesar de serem pequenas, são excelentes observadoras e conseguem sentir quando há mudanças e alterações, especialmente nos que lhe são mais próximos, como poderá ser pai/mãe. No caso da criança questionar, a resposta deve ser dada.

Existe uma altura certa para se dizer a noticia?

A notícia de uma morte de um pai/mãe é sempre difícil, seja qual for a altura e não existe, na verdade, uma altura ideal.
 Mais uma vez, sempre que há oportunidade, o adulto deve ponderar algumas condições para conseguir abordar o assunto com a crianca:
- o contexto em que o vai fazer que deve ser o mais tranquilo e familiar possível, proporcionando a possibilidade da criança se exprimir como sentir necessidade e se sentir o mais segura possível;
- o momento do dia, escolhendo sempre que possível que a notícia seja dada num momento em que depois se possa estar com a criança e apaziguá-la, acarinhá-la e ouvi-la se necessário; 
- ter pessoas, se necessário, que possam apoiar, familiares, uma professor ou professor de confiança que possam ir ajudando a criança durante o seu luto, criando uma rede de suporte, no entanto, respeitando a privacidade da criança;
- ter atenção a quem dá a notícia, nem sempre é o outro progenitor a figura mais securizante para a criança.

Quem deve dizer? O pai sobrevivente, um avó? Ou qualquer pessoa?

Sempre que possível não deverá ser uma pessoa ao acaso a dar a notícia. Uma pessoa que seja securizante e de confianca na vida da criança; o progenitor sobrevivente se houver uma relação sólida e muito consistente com a criança. O importante é que seja uma pessoa de referência para a criança, com quem a criança se sinta normalmente (antes deste acontecimento) acompanhada, segura no dia-a-dia e que a possa acalmar e acompanhar.

De que forma se deve dizer? Qual é a mensagem principal?

É frequente que a crianca já se possa ter deparado com o assunto da morte, seja através de uma história de desenhos animados, a história de um livro ou até de uma planta ou de um peixe de estimação. Não há uma forma única, uma frase mágica, muito menos quando se fala de um pai/mãe próximo(a) e presente.
É essencial:
- Adaptar sempre à idade e características da criança;
- Tratar “as coisas pelo nome”: não é fácil para os adultos chamar morte à morte, especialmente quando falamos com uma criança. No entanto, é importante usar a palavra. Por exemplo, usando o ciclo da vida para a explicação, sendo a morte como uma das fases na vida de qualquer ser vivo;
- Tentar nao ficcionar em demasia ou usar expressões como foi viajar para muito longe, dormiu e nunca mais acordou devem ser evitadas para não levar ao desenvolvimento de medos e preocupações com os seus próprios comportamentos e funcionamento normal do dia-a-dia. A morte é sempre difícil de entender, mas fará de alguma forma parte da vida da criança, seja directa ou indirectamente. Acima de tudo, sem ficcionar, sempre com muita  atenção em adaptar a explicação à idade, mas dando-lhe uma resposta tão concreta quanto possível, que não dê espaço para confabular, fantasiar e poder ganhar medos de ter certos pensamentos ou certos comportamentos inventados pela própria criança. Esclarecer que a morte não é nunca consequência do que a criança faz ou pensa;
- Responder às questões da criança, sempre. Mesmo que a resposta possa ser um sincero “Não sei”. Na verdade, dependendo das crenças de cada um, há certezas sobre a morte que nem os adultos têm e isso pode ser partilhado com a criança, ajudando-a a gerir a incerteza, a falta de algumas respostas, a possível sensação de injustiça, partilhando também que se sente o mesmo e que é mesmo injusto;
- Transmitir a notícia e dizê-lo devagarinho para que a criança possa ir expressando o modo como está a receber a notícia e isso ajudar o adulto a ir adaptando a mensagem, de acordo com a reacção da criança;
- Em qualquer situação e acima de tudo, ir expressando o facto de ser normal ficar triste, de ser muito difícil, para legitimar sentimentos e assim facilitar o luto.

Existe formas diferentes, consoante a idade? Quais? Até aos 3 anos? Dos 3 aos 7? Dos 7 aos 10? Das 10 aos 15?

Como em qualquer assunto ou área, tambem abordar a morte deve ser adequada nao só à idade como às características da crianca. Como tal e porque apesar da idade nos dar algumas noções gerais, cada criança é diferente, mesmo podendo ter a mesma idade. É importante acima de tudo conhecer bem a criança. E ter presente que receber essa notícia é sempre muito, muito difícil.
Antes dos 2 anos é dificil a crianca entender o conceito de morte, ou seja, perceber que é para sempre, mesmo que se explique. É possível que a criança pergunte (no caso de já dominar a linguagem verbal) frequentemente ou procure pelo progenitor falecido e que apresente algumas alterações no sono e na alimentação e instabilidade, especialmente no caso de existência prévia de uma vinculação segura. É importante ir dando-lhe a maior estabilidade possível, acarinhando-a e dando-lhe a vinculação que necessita.
 A partir dos 2 até aos 5/6, a criança ao ter maior noção de separação e perda do outro, ficará instável emocionalmente, pode frequentemente apresentar comportamentos regressivos ou instáveis e terá dificuldade em perceber o que aconteceu, no entanto, deve-se referir o que aconteceu e falar sobre isso, especialmente sendo um pai/mãe.
A partir dos 5/6 anos, a noção de morte torna-se muito mais clara e real, inclusivamente por volta dos 5, 6 anos pode surgir o medo de morrer ou de que alguém próximo morra. Usar vocabulário como “morte/morreu”, “ficou muito doente e morreu”, “terminou o ciclo da vida” pode ajudar. Explicar as causas pode ajudar a partir dos 6/7 anos, mas é muito importante ter cuidado com a maturidade emocional da criança e evitar explicações demasiado pormenorizadas, que possam impressionar em demasia.  A criança pode não estar preparada para saber logo tudo de uma vez.
No entanto, quando a criança pergunta o que se passou, porquê e porque morreu, é importante responder, ainda que se possa simplificar a explicação (por exemplo, se foi uma doença é importante adaptar a explicação científica à idade, para que perceba). Especialmente, quando falamos de idades mais avançadas, como os 10 anos ou claro, na adolescência. Na adolescência, é importante uma partilha clara, sem esconder e sem fantasiar, sempre focado na ajuda do jovem a expressar emoções e ajudando-o a não se culpabilizar.
Uma dica que pode ajudar é estar atento às perguntas da criança, se pergunta, em princípio está preparada para receber a resposta, ainda que com cuidado e gradualmente, indo analisando a reacção enquanto se fala e legitimar sempre as emoções e a dificuldade em compreender a morte, podendo partilhar esse sentimento com a criança/adolescente.

- Devem ir ao funeral?
Não há uma regra, mais uma vez. No entanto, crianças muito pequenas que não entendem o conceito de morte, não fará sentido participarem do ritual, uma vez que o mesmo não contribuirá para o seu luto.
A partir de certas idades ou fases, em que já se compreende o conceito de morte/perda e especialmente em que já se falou sobre a noção de funeral, se a crianca mostrar vontade pode ser importante nao lhe vedar essa vontade, no entanto, avaliando se a criança terá mais benefiícios em termos de luto indo, ou ficando.
No caso dos adolescentes, é sempre importante avaliar cada caso e características do adolescente, no entanto, na maioria dos casos e tratando-se de alguém tão próximo como é um pai/mãe (se assim for), pode ser importante.
Em alguns casos, permitir que escolha, explicando primeiro do que se trata, que só terá de ir se quiser e por si mesmo, e a partir daí deixá-la escolher, dando-lhe a conhecer a hipótese de onde ficará (deverá ser alguém da confiança da criança), se não for e aceitando genuinamente qualquer das hipóteses, evitando acima de tudo que sinta que por ser filha tem que ir ou que a mãe/pai falecido iria ficar triste ou aborrecido. A ida ao velório e funeral deverá ser sempre monitorizada para que a criança consiga entender certas reacções mais efusivas a que possa assistir e dando-lhe sempre espaço para que se possam ir embora.

Os pais devem chorar à frente da criança?

Sim, devem, como ao longo da vida devem mostrar as emoções, sejam elas positivas ou negativas. É um trabalho desde que a criança nasce, porque se assim for, nestas situações, a expressão será mais fácil, apesar de nunca ser fácil e ajudará a criança a vivenciar o seu luto. Ajudar a crianca a perceber como é normal sentir o que se sente e a expressar adequadamente o que sente, sem mascarar a tristeza com zanga, que é tão frequente por exemplo no caso dos jovens. No caso de um adulto que está muito desorganizado emocionalmene com a morte, é importante evitar choros demasiado desesperados ou sem parar que podem destabilizar completamente a criança e fazê-la sentir-se responsável por ser ela a fazer o papel de adulto. Chorar com a criança pode ajudar a fomentar a noção de união  e de que podem sofrer juntos e apoiarem-se.

O que responder ao “porquê morreram”?

Mais uma vez, depende das características e idade da criança. Em idades muito precoces mas que já entendem a noção de morte, daí perguntarem, atenção a explicações demasiado pormenorizadas que a criança pode não ter maturidade emocional para recebê-las.
Nem sempre se consegue responder, mais uma vez recorrer a explicações sinceras, ainda que ajustadas à criança é o mais adequado, expressando também a dificuldade em entender a injustiça da morte.

- Deve-se criar uma história de continuidade? Do céu? Ou das estrelas?

Conheço situações em que pais fizeram isso e resultou e outras não. Acima de tudo, se a opção é criar histórias de continuidade é preciso ter cuidado com a forma como as crianças as entendem e generalizam em certas idades, para não desenvolverem medos ou preocupações excessivas.
A continuidade é no fundo transmitir que poderá sempre lembrar-se da mãe/pai e das coisas boas que faziam juntos, é permitir que haja recordações em casa do elemento que faleceu, é não ignorar que isso aconteceu, é recordar. Talvez colocar uma fotografia ou ter um album disponível possa ser mais adequado para ajudar a criança.

O luto das crianças é mais difícil? Qual é a faixa etária que reage pior? Porquê?

Não há uma faixa etária que reaja pior. Na verdade, a morte de um pai/mãe próximo e presente é um acontecimento de vida brutal e avassalador, em toda a infância e adolescência. Há certas crianças que poderão reagir pior porque estão numa fase mais activa no desenvolvimento em termos de ansiedade de separação, porque já estão por outros motivos anteriores à morte, instáveis emocionalmente, porque não existe um bom suporte familiar/social, porque a vivência do luto não foi feita de forma adequada.
Tal como em qualquer acontecimento de crise de vida, quanto mais equilíbrio familiar e social já existir e maiores competências socioemocionais existirem antes da morte, melhor a capacidade de vivência de luto.

Rita Castanheira Alves