quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Só pode bater, quem conduz...

Sou pai e só assim posso errar. Gritar mais do que devia, suspirar impaciente, não abraçar quando é preciso abraçar. E desesperar quando devia dar segurança.
Há dias mais difíceis. Porque além de ser pai, sou pessoa, tenho uma história que já podia encher as páginas de um livro cheio de peripécias, impasses, dificuldades, sou trabalhador e tenho tantos assuntos para resolver, emails por responder e querer todos os dias ser melhor, sou amante e quero mimar e ter tempo para dar beijinhos e continuar a namorar, poder lembrar-me do dia em que festejo o amor, sou amigo e ter tempo para os meus amigos. Sou pai e nem sempre o sei ser. Não há chips para pais, com a programação toda do que é preciso ser e fazer.
E por tudo isto e porque é um desafio a valer, ser pai é errar. É ter culpa porque tentei, porque não tive paciência ou porque é um dia não. É ter culpa porque hoje não li a história ou porque de manhã estava demasiado ensonado. Se não fosse pai, não podia errar com os filhos, não podia ter culpa.

É como quando se conduz. Só se conduzir é que corro o risco de bater ou o risco de bater e não acontecer nada de grave e ter viagens felizes, descontraídas, conhecer sítios incríveis e levar-me até lá e a quem posso levar comigo.
Se não conduzir, a culpa nunca será minha.
Se não conduzir, também nunca poderei levar-me a viajar e descobrir caminhos novos e felizes.

Rita Castanheira Alves

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