segunda-feira, 15 de junho de 2015

Apresentação do Livro "A Psicóloga dos Miúdos" na Feira do Livro de Lisboa e a conversa sobre o que é isto de educar, ser pai, ajudar a crescer os mais novos...

O céu nublado, as nuvens carregadas e a chuva que teimava em não parar. Este cenário dizia-nos que seria um dia tão bom para se ficar em casa, no sofá a ler, a ver filmes e a jogar com a família e amigos. 
Mas era o último dia da Feira do Livro de Lisboa e às 17 horas a apresentação do meu livro "A Psicóloga dos Miúdos" e uma conversa com os participantes sobre isto de educar e ajudar a crescer os mais novos. 
"Cancelamos? Não cancelamos?" "Não há cadeiras. Estão molhadas." "Os eventos estão a ser todos cancelados, a feira está quase sem ninguém."

Mas há um compromisso, uma vontade de conversar e por isso não vou cancelar, valerá sempre a pena.

E às 17 horas, a chuva resolveu descansar e dar-nos um céu mais aberto. As cadeiras já secas, o palco molhado mas preparado e a pouco e pouco, daqui e dali chegaram amigos, pais, clientes, ex-clientes, professores, família e tantos outros que íam passando, sentavam-se, ficavam em pé, ouviam o que por ali se dizia a propósito do meu novo livro "A Psicóloga dos Miúdos". 

Foi uma conversa curta, mas animada, com sorrisos cúmplices, partilhas importantes, dúvidas de pais coragem e entusiasmados. 

O meu agradecimento a todos e a cada um dos que lá esteve, mesmo quando o sofá seria certamente mais apetitoso. 
O meu obrigada pelos que estiveram novamente, pelos que sei, fizeram tudo para ir, pelos que surpreenderam e dos quais tinham saudade. 
O meu obrigada a todos os que não conheciam mas ficaram para conhecer. 


Afinal há dias de chuva bem felizes!

Rita Castanheira Alves

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Porque a vida passa. Há que ser mesmo criança quando se é criança


Hoje sonhei com os meus avós. Na casa onde passava os Verões com os dois, no meio de couves, flores, terra e uma piscina de cimento que arranhava os pés, para nos lembrar que foi feita com muito carinho e trabalho pelo meu avô, no seu silêncio.
Sonhei que lá estava mas era crescida. Já não era criança. A minha avó costurava e o meu avô andava por lá e eu estava a tirar ou a estacionar o carro, não sei bem.
Mas era agora, crescida, mas eles como antigamente, quando eu era criança.
Acordei e fiquei triste subitamente. “Tempos que não voltam”, pensei.

Mas sem tirar a cabeça da almofada, lembrei-me que era tempo de assinalar o dia da criança na página do projecto e de lembrar a importância deste dia. Um dia que, sim, deve ser assinalado, deve existir e deve ser marcado. Para nos lembrar do que é ser criança, do que é direito de criança, de que é preciso parar e olhar para os mais pequenos de altura e não esquecer que são também pequenos a crescer, com muita vontade de brincar, com muita necessidade de mimo e fantasia e com um tempo e rtimo próprios. Que desejam sorrir e dão abraços tão bons e tão cheios.
 
Acordada lembrei-me de mim pequena. Lembrei-me da marquise que existia na minha casa, que existia, aliás nos anos 80/90 em grande parte das casas dos subúrbios. Uma caixa de alumínio, que geralmente não tinha grande utilidade.
 A caixa de alumínio da minha casa era local de brincadeira, entre almofadões grandes para relaxar, canetas, bonecas e outras tantas coisas que não eram necessariamente brinquedos à primeira vista, mas eram até mais do que muitos dos brinquedos da loja. Na marquise brincava horas sem parar, geralmente até o sol se pôr, no verão mais, porque o sol ía dormir mais tarde e porque estava mais quentinho. Convidava os meus pais para virem beber chá ou ao restaurante que lá montava com os bancos da cozinha e os panos turcos da loiça. Lá ficava a trocar de roupa, a escrever com giz no chão ou a inventar histórias impossíveis, deitada nos almofadões, que na altura pareciam muito maiores do que realmente seriam, provavelmente.   
Quando vinham amigos, também se brincava na marquise, mas não era a mesma coisa. Aquela divisão era uma espécie de casinha só minha, onde tantas vezes passava a tarde do fim-de-semana ou brincava depois de vir da escola.
E hoje, lembrei-me deste sítio fantástico, mágico, que me acalmava, divertia, me aconchegava, que me ajudou a criar, imaginar e a ser feliz. E hoje, depois desta corrida pela memória da minha infância, parei num momento: naquela mesma marquise, o sol lá batia no final do Verão, já fraquinho mas aconchegante, a minha mãe a ir embora porque já não lhe apetecia brincar mais e eu a pensar: “É impossível deixar de gostar de brincar, eu nunca vou deixar de gostar de brincar, tenho a certeza. Às cozinhas, aos puzzles, aos restaurantes, aos medicos, às secretárias ou às lojas.
Hoje, lembrei-me como se fosse ontem que lá estivesse na marquise, lembrei-me exactamente como me sentia quando brincava, como era sentir-me satisfeita, motivada, envolvida, descontraída e feliz por poder brincar. E como ainda sei exactamente que sensação é essa e como ainda a tenho nos novos interesses  e descobertas que vou tendo e pelos quais me vou apaixonando.
Abri os olhos, sorri, aceitei a saudade e fui desejar um feliz dia da criança ao mundo.

Acima de tudo assinalar o dia, porque foi mesmo importante a oportunidade de ter sido criança. Acima de tudo assinalar o dia, porque é determinante para o crescimento ter a oportunidade de ser criança. Acima de tudo assinalar o dia porque a vida passa.

Rita Castanheira Alves

Para todas as crianças, pequenas ou crescidas!