terça-feira, 1 de setembro de 2015

Porque "desenvencilhar-se" faz parte da vida e do crescimento...


 Como prometido partilho as perguntas e respostas completas que serviram de base às opiniões do artigo da Revista Sábado "Se estiveres longe de mim, faz isto". 

Porque aprender a ser "desenvencilhado" é importante!

1.     Acredita que é necessário os pais conversarem com os filhos sobre situações limite e o que devem fazer? Seja perderem-se no supermercado, serem abordados por estranhos ou verem o pai/mãe sentir-se mal e sabe o que fazer…

Acredito que é importante à medida que as crianças vão crescendo e estando em diversos contextos, ir dando-lhes a conhecer as realidades em que estão, suas características, ajudando a antecipar situações e o que elas envolvem, ajustando ao nível de desenvolvimento da criança e sempre com alguma tranquilidade. O objectivo é ajudá-las a agir e não a bloqueá-las.  

2.   É saudável para as crianças pensar no que pode acontecer ou por outro lado pode causar ansiedade?

Depende da forma como for feito, conversado e apresentado. Se uma criança está numa fase normativa de medo excessivo de se perder dos pais pode ser extremamente ansiogénico acrescentar novos dados e informações sobre a possibilidade de se perder. No entanto, nunca falar nem prevenir, nem a informar nem capacitar pode comprometer de certa forma a sua autonomia, a sua capacidade de sentir que tem controlo, a capacidade de resolução de problemas e é capaz em situações mais difíceis. Por vezes, aproveitar as situações do dia-a-dia e de forma tranquila e sem catastrofizar é uma excelente forma de ir conversando sobre perigos. 


3.   A partir de que idade acha que é razoável ter este tipo de conversas? Ou pode ter-se desde muito cedo desde que se adapte o discurso?

A idade é importante mas mais do que isso, é conhecer as características da criança, o seu nível de desenvolvimento emocional, cognitivo, social e pessoal. Adaptar sempre o discurso, para que a criança compreenda e o objectivo seja cumprido: muni-la de estratégias de resolução de problemas e dar-lhe controlo e autonomia. Fazê-lo gradualmente, para que o excesso de autonomia não se transforme em ansiedade excessiva ou preocupações constantes que não são para as crianças. 

4.   E deve ser um discurso sério ou, em certas ocasiões, mais como se fosse um jogo para eles captarem melhor?

Tudo depende da criança, da sua idade, nível de desenvolvimento e características individuais. Ser criativo na educação pode trazer muitos ensinamentos às crianças e ao mesmo tempo, conversar com elas com alguma seriedade (seriedade não significa rigidez ou autoridade) desde pequenos quando é necessário também é importante. Aproveitar situações do dia-a-dia, algum filme ou uma história de um livro ou uma notícia pode ajudar. Com os adolescentes, resulta entrar no quadro de referência deles e adaptar o que se pretende transmitir ao que gostam e lhes chama a atenção. 

5.   Agora que estamos ainda em época de férias, a que devemos ter maior atenção na praia ou em passeios no campo? Que estratégias podemos adoptar?

É um excelente momento para estarmos com mais disponibilidade e calma com os filhos e conhecê-los melhor. São oportunidades para os ajudar a desenvolver autonomia, arriscar e ajudar a ponderar riscos e resolução de problemas. Ajudá-los a serem eles a “levar-nos” no caminho do passeio, para aprenderem eles o caminho, a dizerem como está o mar, que bandeira está, perguntar-lhes a cor do chapéu de sol e a perceber em que sítio está, a proporcionar novas experiências em que a ajude a arriscar com consciência. 

6.     Em alguns artigos estrangeiros encontrei o que se deve ou não fazer. “Não fales com estranhos” era algo que diziam para não fazer – e, por outro lado, especificar, “não vás a lado nenhum sem pedir autorização ao pai e à mãe”. Na sua opinião, quais são as regras a decorar, do que se deve e não deve fazer?

Acima de tudo, ajudar com o maior equilíbrio possível, a educar crianças e adolescentes conscientes, capazes, autónomos, que arriscam mas ponderam os riscos e que reflectem, que questionam dentro do que conseguem antes de agirem, que confiam nos pais e no que estes lhes dizem, especialmente na infância. Acima de tudo, criar o hábito de conversar em casa sobre o que se faz, pensou ou se anda a fazer, seja certo ou errado, bom ou mau. 

7. Tem encontrado casos deste género na sua vida profissional? 

Tenho encontrado de tudo: miúdos que até muito tarde não desenvolveram a autonomia, ficam aflitos perante a imprevisibilidade, que não sabem lidar com nenhuma situação nova, que são sobreprotegidos até muito tarde, mas também miúdos que desde demasiado cedo resolvem tudo sozinhos, seja assuntos de “crianças”, seja de crescidos e isso também os obriga a crescer excessivamente rápido.
Da minha experiência clínica, pais que conversam em casa, que acompanham, que proporcionam novas experiências adaptadas à criança/adolescente e ao seu nível de desenvolvimento, que os ajudam a sair da zona de conforto, sem sair da zona de segurança, que os ajudam a errar e a arriscar, que criam situações novas, que conhecem a realidade dos filhos e conseguem lembrar-se como é ser mais novo, proporcionam melhores ferramentas para os filhos serem mais capazes na prevenção de situações perigosas ou imprevisíveis.

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