sexta-feira, 8 de abril de 2016

Ciberdependência


Mas afinal o que é isto da ciberdependência?

A ciberdependência é um conceito em estudo e actual, fruto da invasão tecnológica das últimas décadas. É ponderado pela Associação Americana de Psicologia (APA) a inclusão da dependência da internet no apêndice do DSM-V (o manual de Perturbações mentais usado pela comunidade médica em geral), por já reconhecer critérios para que se torne uma perturbação como outras adições.
Os estudos mostram que o circuito neuronal envolvido na adição a drogas e que sabemos hoje é o mesmo sistema de recompensa cerebral envolvido na internet.
Podemos incluir na ciberdependência, não só dependência da internet mas também de outro tipo de tecnologias e recursos das mesmas, como vídeojogos. Pode ser considerada dependência por já se começar a verificar que provoca efeitos e prejuízos no funcionamento normal do sujeito como outras adições, seja na presença ou na ausência da mesma.

Em que faixas etárias é mais recorrente?

Os últimos estudos feitos em Portugal mostram que é uma dependência generalizada. Posso referir, por ser a população com quem trabalho (além das crianças e pais), que os adolescentes apresentam, pela fase de maturação cerebral em que se encontram, características inerentes à própria adolescência, além de terem já nascido na era tecnológica, um terreno mais fértil para que a dependência se instale e se mantenha com maiores efeitos. Por outro lado, um estudo feito pelo ISPA em 2014 mostra que cerca de 70% dos adolescentes apresentam sinais de vício da internet. São na sua maioria rapazes, do ensino secundário e não têm relacionamento amoroso (Fonte: https://www.publico.pt/sociedade/noticia/quase-tres-quartos-dos-jovens-portugueses-apresentam-sinais-de-dependencia-da-internet-1674907).
Sabemos também que o próprio isolamento da criança/adolescente leva a que seja mais vulnerável aos riscos de dependência das tecnologias.

Quais os principais sintomas/sinais de alarme?

-        Um grau elevado de importância conferido ao computador ou aos dispositivos móveis;

-        Muito tempo e sempre a escolha de se dedicar ao computador e outras tecnologias;

-        Não saber dosear nem escolher contextos para recurso às tecnologias (pôr despertador para usar; adormecer sempre com o telemóvel ou tablet ligado; nunca desligar nem se desconectar);

-        Ansiedade perante a possibilidade de não ter ligação à internet ou outras tecnologias;

-        Isolamento social;

-        sintomas de tolerância (bem-estar, alívio) face ao uso;

-        sintomas de abstinência face ao não uso (como irritabilidade, dores de cabeça, agitação e por vezes agressividade)

-        nos casos mais extremos, recaída face às tentativas sucessivas para parar.
  
Haverá ao longo dos tempos um agravamento deste tipo de situações?

Sim, mas não podemos esquecer que isso também se deve à presença cada vez maior e constante e ao acesso mais democratizado e fácil às tecnologias e especificamente, à internet. Os jovens de hoje são os primeiros a ter já nascido com tecnologias e internet à sua volta desde os seus primeiros dias.

Qual o lado mais prejudicial deste vício?

Como em qualquer vício os efeitos negativos no funcionamento normal e o que se deixa de lado por fazer uma escolha sempre do mesmo. Depois ,especificamente prejuízos já conhecidos: eventual comprometimento das zonas cerebrais envolvidas nas tomadas de decisões de riscos; perturbações de sono; irritabilidade; maior isolamento; negligência nos auto-cuidados; maiores dificuldades na motricidade grossa, menor capacidade e agilidade física global. Níveis de sedentarismo grandes.
Aparecem também os prejuízos conforme o uso dado, nomeadamente da capacidade comunicativa e de interacção com o outro, no caso de usos solitários.

Como combatê-lo?

Sabemos que há vantagens associadas ao uso das tecnologias, nomeadamente, o desenvolvimento das áreas envolvidas na memória de trabalho e capacidades visuoespaciais associado ao comportamento repetitivo de jogar videojogos, ou a possibilidade de comunicar com quem está longe, ter acesso a muita informação... Como tal, é essencial não se perder de vista os efeitos positivos e todas as vantagens associadas às tecnologias e contando com os riscos inerentes à mesma, especialmente na adolescência, tomar decisões ponderadas e regrar o uso das mesmas. Sabemos também que não podemos isolar os efeitos e riscos das tecnologias e dizer que os mesmos são universais, porque há também factores do próprio adolescente e seu contexto que aumentam ou diminuem o risco inerente ao uso das tecnologias.
Optar por uma postura preventiva, comunicando sempre com a criança ou adolescente, tendo medidas preventivas, relativamente ao uso, acesso e relação com as tecnologias.

Que alternativas devemos dar às crianças que passam muito tempo a jogar?

Como numa necessidade básica como a alimentação, diversificar: proporcionar e incentivar a criança a ocupar o tempo em novas experiências, para que previna quadros de isolamento, dependência excessiva de tecnologias e preferência total pelas mesmas. Quanto mais for envolvida noutro tipo de iniciativas e experiências, maior as possibilidades dele não preferir sempre as tecnologias e quando preferir, o fazer de forma saudável, tirando o maior partido das mesmas.
Quando joga, acompanhá-lo, conhecer o jogo, fazer perguntas, interessar-se, regrar o tempo, os jogos possíveis de jogar, as condições para jogar.

Como explicar-lhes que não é saudável nem benéfico para elas?
Informando-as sobre os efeitos e riscos até a nível cerebral, de forma curiosa e não crítica ou distante. Dando exemplos práticos, reconhecendo o lado positivo, mas mostrando preocupação genuína e fazendo o papel de adulto, indo ajustando o tempo dedicado às tecnologias e o tipo de tecnologias à idade e fase de desenvolvimento. 

Rita Castanheira Alves

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