São diversas as opiniões dos
profissionais ligados à educação e à psicologia relativamente às competências a
desenvolver e a estimular nas crianças antes da entrada no 1º ciclo.
Nos jardins-de-infância
seguem-se directrizes e planos normativos, mas há muito espaço para abordagens
e perspectivas diferentes. Em casa, há pais que estimulam desde cedo umas
competências em detrimento de outras.
Na idade pré-escolar e,
entenda-se que a mesma se estende desde que a criança nasce até à entrada no 1º
ciclo, há muito por fazer e acima de tudo, descobrir. Dar os primeiros passos
no desafio de descobrir quem é, no aprender a ser pessoa, a distinguir-se dos
outros, a criar uma individualidade, a sentir-se gostada e a saber gostar.
É tempo de desenvolver as
competências que denomino “assuntos de toda a vida e mais além”, ou seja,
capacidades e aprendizagens que serão a base para a vida real, no mundo, com os
outros e consigo mesmo. Esta fase é essencial para os pais e educadores
“trabalharem”, de forma natural, no dia-a-dia, em brincadeiras e nas rotinas
com a criança, a tolerância à frustração, a auto-estima, a auto-confiança, a
persistência, a solidariedade, a partilha, os limites e o saber errar e sem nunca
esquecer, a literacia emocional, dando-lhes a possibilidade de conseguirem
identificar em si, nos outros, expressar e regular as emoções, competência
transversal para todas as aprendizagens que se seguem, seja na educação formal
ou na vida além escola.
Dar os primeiros passos na
autonomia e na independência, num jogo gradual, com muita segurança e muitos
elogios, para que a criança desde cedo e de forma natural, consiga sentir-se
segura, capaz de gerir os desafios que virão em qualquer momento.
Todas estas capacidades são
exemplo de capacidades essenciais para a preparação para a vida e para as
aprendizagens escolares formais. Uma criança feliz, tranquila, competente
pessoal, social e emocionalmente terá maior probabilidade de ter sucesso
académico e estar preparada para os desafios mais formais da educação, porque
serão também crianças mais motivadas intrinsecamente.
Importante nesta fase, a
criação de desafios e situações, adequados às características e fase de
desenvolvimento da criança, para desenvolver a capacidade de resolução de
problemas. Saber que pode ser difícil, mas que é possível tentar e no meio
disto ajudá-la a saber errar, porque na escola irá errar para aprender. Como
tal, saber acima de tudo errar, confrontar-se com o erro e com a nova tentativa
e saber que isso faz parte da aprendizagem de todos nós, até dos pais. Ajudar a
par do erro, a criança a arriscar, a compreender os riscos e a tomar decisões
com os riscos que tem, seja numa simples escolha de duas hipóteses de
brincadeira.
Importante também nesta fase,
e de todas as formas que se queira, o ensino/desenvolvimento da criatividade e
da imaginação. Ajudar a criar, a imaginar, seja por histórias, teatros
caseiros, brincadeiras de tapete ou músicas. A criatividade é fundamental para
a preparação da criança para a fase das aprendizagens escolares. Na fase
pré-escolar, a criatividade de todas as formas é um grande recurso e um
ingrediente que se pode usar bastante, a par com a curiosidade. Ajudá-la a
olhar para o que a rodeia, estimular o questionamento, responder-lhe quando
pergunta, perguntar-lhe também, procurar respostas, mesmo que não sejam
encontradas.
É tempo de experimentar, dar
tempo à criança para experimentar, conseguir dar-lhe espaço para isso,
proporcionar-lhe experiências novas e descobrir o que elas significaram e o que
restou das mesmas.
É tempo de desenvolver
competências artísticas, agilidade motora e proporcionar saúde física também,
através da actividade física seja ela formal ou informal, envolvendo, por
exemplo, toda a família em caminhadas ou saltos à corda.
Proporcionar à criança o
contacto com outras crianças e adultos e jovens. Pessoas diversas, para
experimentar diversas relações, desenvolver a socialização, saber estar e
partilhar, ouvir e conversar. Ajudá-la a pôr-se no papel dos outros e a
respeitá-los e fazer-se respeitar. É tempo ideal para lhe proporcionar
brincadeiras diversas, com meninos e com meninas, com bonecas, carrinhos,
animais ou puzzles. Jogos de concentração e de manutenção de foco em tarefa, que
serão essenciais mais tarde para as aprendizagens formais no 1º ciclo.
Nesta fase, a brincadeira com
a criança é o maior motor de desenvolvimento de todas estas capacidades
essenciais para o que se segue. A brincadeira é o meio para desenvolver tudo o
que aqui considerei importante, tornando as aprendizagens naturais,
descontraídas, fáceis, mas com grande eficácia e acima de tudo, tendo na base,
a possibilidade de criação de vínculos afectivos com a criança.
Tanta competência importante,
tanta possibilidade determinante para a vida numa fase que antecede as
aprendizagens formais, a grande tarefa de aprender e experimentar ser Feliz, que
saber escrever o nome todo correctamente, decorar letras e contar até 20 sem
enganos poderá vir noutro tempo, quando o 1º ciclo chegar. Continuo a achar que
há muito para fazer antes disso, e tão importante. Ou se calhar, com o foco e
investimento nestas competências pessoais, sociais e emocionais, gradualmente e
antes do 1º ciclo, a vontade da criança em saber o seu nome, em aprender a
contar e a mostrar sinais de que está preparada para a aprendizagem escolar
aparecerá espontaneamente. Vale a pena tentar.
Rita Castanheira Alves
Sem comentários:
Enviar um comentário