terça-feira, 3 de março de 2015

Por favor, abra uma excepção: com os seus filhos, quando se tornarem adolescentes.

Quem nos mantém à distância, não nos procura, não partilha o que se passa e nos fala torto, geralmente afasta-nos.
Isto é mesmo assim, na vida, com quem nos rodeia, com os amigos de sempre ou aqueles mais recentes.

Mas por favor, abra uma excepção: com os seus filhos, quando se tornarem adolescentes.

Daqueles calados, faladores mas refilões, que insistem em ficar no quarto, que sentem que não são compreendidos e que é melhor falarem toda a noite no whatsapp com os amigos ou publicarem no facebook como estão irritados ou frustrados. Dos filhos que respondem torto, que entram no carro e ficam calados, aos que respondem por monossílabos.

A vontade é calar-se, se calhar nem sequer tentar, para não se irritar com a maneira torta de falar ou o ar de seca com que responde. A vontade é deixá-lo estar e esperar que cresça ou que esteja melhor ou que finalmente vá ter consigo e fale. Mas enquanto crescem e não crescem, enquanto ficam excessivamente calados e incompreendidos, vale a pena abrir a excepção e não ficar igualmente calado, a dar todo o espaço. O perigo é esse espaço ficar excessivamente grande.

Envie um email com algo que possa interessar ao seu filho ou simplesmente com uma piada, deixe-lhe um presente simbólico em cima da secretária, passe a ser o pai que escreve SMS e de vez em quando deixe-lhe um beijo ou um abraço através das tecnologias. Vá dando abraços e mostrando entusiasmo quando o vê, alegria por estarem juntos e manifeste que faz questão que passem tempo juntos. Corte do jornal um artigo sobre um ídolo do seu filho e dê-lhe ao final da noite, antes de ir dormir. Diga-lhe, escreva-lhe, desenhe que gosta dele. Não o faça para toda a gente ver, só para o seu filho.

A resposta pode não ser nenhuma, um dia mais torta, outro dia só um "hum". Dê-lhe espaço, sim, mas não deixe de lhe mostrar que está ali mesmo, sem invadir o espaço, mas no espaço.

Por favor, respire fundo, mas por favor abra uma excepção.

Rita Castanheira Alves

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