sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Júlia das Birras


Júlia pára!
Júlia não faças isso!
Júlia está quieta!
Júlia, outra vez!
Júliaaaaaa!!!!!

A Júlia tem 4 anos. Uns 4 anos maduros. Maduros? Sim, maduros. Quero dizer… Crescidos. É observadora, indaga tudo o que a rodeia, com os olhos redondos que nem bolas de snooker. De nariz empinado, olha para um lado, olha para o outro, sempre curiosa e em jeito de descoberta. Resolve problemas sozinha, como pedir as braçadeiras quando vai para a piscina, vestir o vestido da praia e arrumar os livros por ordem. Costuma responder quando lhe fazem perguntas, mesmo que a resposta seja: “Não sei.” É uma Júlia Madura para a idade que tem, costuma ouvir.

Há 4 meses para cá, mudaram de casa, a mãe foi convidada para ir trabalhar para um sítio que ela gosta muito. A Júlia acha mesmo que é o sítio preferido da mãe porque - fica lá tantoooo diaaaa, costuma dizer a Júlia, enquanto abre os olhos, para explicar o tanto.
Foram os 4, a mãe do novo trabalho, o pai com o trabalho antigo que o faz estar sempre ao computador a escrever palavras, o mano pequeno da Júlia, o Faustino e claro, a Júlia dos olhos redondos.
E a tartaruga Xica??? Ah, claro. E a tartaruga Xica, com quem a Júlia conversa e bebe chá.

Há 4 meses também a Júlia arranjou um novo trabalho… Dar trabalho. Dar trabalho? Uma rapariga tão Madura? Há 4 meses, o novo trabalho da Júlia é… Dar trabalho. Suspiram os pais entre um telefonema e a reunião no trabalho.
Mas afinal o que é dar trabalho? Dar trabalho para os pais é fazer birras, é fazer asneiras e disparates. E depois ouvirmos ralhetes dos pais.

Um dia, uma birra. Outro dia, um disparate. No seguinte, uma asneirola e à noite, mais uma birra.


A Júlia Madura passou a ser a Júlia birrenta. Que grande chatice.

E a Júlia rapidamente se tornou a Júlia birrenta. As asneiras, as birras não paravam de atacar, pareciam quase mais fortes que a Júlia. Não podia ser, a Júlia era tão forte, alguma coisa se passava.
Foram três meses de taaannntas birras  no restaurante, de disparates no supermercado, de fúria com a mãe, de coisas feias que a Júlia não conseguia deixar de dizer, de lágrimas e de dificuldade para cumprir regras que antes pareciam tão fáceis.
Os pais não percebiam e o trabalho novo, as reuniões, as tarefas de casa e a vida tão ocupada não os deixava perceber. Afinal o que se passava com a Júlia? De Madura a birrenta, em 4 meses?
Os pais cansados, ficaram em casa a descansar um dia, um dia sem trabalhar, sem sequer olhar para o computador. Acordaram os manos Júlia e Faustino, houve miminhos e cócegas na cama dos pais: - Iupiii! Dizia a Júlia enquanto ria e rebolava na cama dos pais. Tomaram um pequeno almoço bem grande e com muita conversa. O Faustino ficou na casa dos avós e os pais foram juntos levar a Júlia à escola e às cinco horas foram buscá-la. A Júlia não podia acreditar. Correu para o abraço dos pais e saltou com um sorriso graaannddeee. Chegaram a casa e brincaram no tapete, como a Júlia gostava, a tomar chá com a tartaruga Xica. Mas desta vez tinham convidados para o chá: os pais. E sem computadores, nem telefonemas, nem pressas! O Faustino nesse dia ficou para o jantar na casa dos avós. Perto das 7 horas e meia uma banhoca, como a Júlia gostava, lá ía ela pelo corredor fora às cavalitas do pai e no banho a espuma servia para fazer penteados: - Fecha os olhos pai, fecha. Agora abre! Xanã, o meu penteado!
Jantaram e à noite houve até tempo para história e para ouvir música calminha. A Júlia adormeceu, depois do beijinho da mãe e do beijinho do pai, com um sorriso maduro. Com o sorriso da Júlia Madura.
Nesse dia, a Júlia Madura explicou aos pais, sem explicar, que precisava de tempo, de pais e de mimos… Ensinou aos pais que é preciso parar, é preciso estar, sempre que possível, nem que seja um bocadinho.

Rita Castanheira Alves

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