À minha Mãe.
Quando tinha 18
anos, passei por uma fase difícil. Talvez apenas por ser adolescente e por
estar a construir a minha identidade. Todavia, foi má. Tão má que, durante
alguns anos, não queria sequer falar sobre esses quase 12 meses, com medo de lá
ir parar outra vez e não conseguir sair. Já estudava psicologia, muito no
início, sem gostar e sem ter a mínima ideia daquilo que iria fazer, longe de
saber que faria o que faço hoje e que estaria onde estou.
Por variadas
razões, deprimia-me muito, sentia-me muito triste, sem vontade de nada e,
fisicamente, o meu corpo resolveu gritar. Emagreci cerca de dez quilos, fiquei
doente e nada me fazia sentir bem. No dia em que celebrei o meu 19º aniversário,
fiz uma grande festa à noite, para me animar, pensava eu. Convidei muitos
amigos e, mesmo sem força, fui jantar. Não correu bem; não estava bem e, depois
de estar exausta, cheia de vontade de chorar e sem conseguir comer, resolvi deixar
a festa e fui para casa. Cheguei tarde, lembro-me. A minha mãe acordou e foi
ter comigo à cozinha. Chorei, novamente. Nesse ano chorava demasiadas vezes, à
frente de quem quer que fosse; era muito constrangedor. Chorei, a minha mãe
deu-me a mão, ouviu-me e, nessa noite, pela primeira vez, acho que consegui
explicar o que realmente se passava comigo… à minha mãe. Ela ouviu-me, chorou
comigo de vez em quando, fez-me festinhas e um chá. Foi-me dando sinais que me
permitiram continuar, pelo seu olhar, pela compreensão, pela paciência... Não
sei.
No final,
disse-me: «Faz aquilo de que gostas e rodeia-te de quem te faz realmente bem.»
Não sei se foi o que me disse, não sei se foi o apoio que me deu, não sei se
tinha chegado o momento de, finalmente, melhorar. Sei que, depois das palavras
da minha mãe, me senti tranquila. Como já não me sentia há muito tempo. Finalmente,
estava descansada e menos angustiada.
No dia seguinte,
as boas sensações ainda permaneciam dentro de mim e, devagarinho, comecei a
deixar sair a tristeza, a fazer aquilo de que gostava e a estar com quem
realmente me fazia bem — passei a ser como desejava. Acho que a minha mãe nunca
percebeu como me «curou». Contudo, «curou» mesmo e eu nunca me esquecerei dessa
força incrível. A força de mãe, da minha mãe.
Rita Castanheira Alves
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