São muitos desabafos, irritações,
perguntas e ralhanços que mesmo sem se querer, se diz quando se tem filhos em
idade escolar. Mas vale a pena lembrar, que apesar de tentadores, são
verdadeiros destruidores de sucesso, felicidade e saúde mental do tempo
escolar.
Chamei-lhes: As tentações de pais a
evitar este ano lectivo.
Sim! Até e principalmente dos pais,
que querem todo o sucesso e felicidade dos filhos.
- Já te esqueceste do ano passado? Vê lá se vai ser igual...
Águas passadas não movem
moinhos. Só o lembrará do que não correu bem, que certamente já foi falado,
punido e por isso deve ser arrumado e não voltado a relembrar, provavelmente
apenas trará uma atitude que não será em nada proveitosa;
- Estou para ver o que vai ser este ano, olha que as minhas expectativas estão mesmo lá em baixo!
Se o pai/mãe for o primeiro a
pôr as expectativas excessivamente baixas, provavelmente o seu filho
corresponderá às mesmas, porque sai da casa partida com receio, pouco
entusiasmo e como se o ano lectivo fosse uma competição dura, aborrecida e
zangada, em que parece que o primeiro lugar já está ocupado.
- És uma desilusão.
Os filhos não servem para
des(iludir) os pais, esse não poderá ser o papel de nenhum de nós, nem de
nenhum deles. E na verdade esse desabafo serve para quê?
- Eu já sei que não vai ser excelente, mas pelo menos vê lá se fazes o mínimo.
Não acreditar na capacidade do
seu filho e mostrar que se duvida é receita certa para que seja mesmo só
cumprindo o mínimo. E ainda por cima sem qualquer efeito positivo na
auto-estima.
- Não fazes mais do que a tua obrigação.
E será mesmo uma obrigação? E
será que aos 11 anos é útil sentir que é uma obrigação? Os adultos que
trabalham também gostam de sentir que mesmo o trabalho podendo ser obrigatório,
pode ser cativante, envolvente e sentir-se bem no mesmo. E será que quando têm
um desempenho muito bom no trabalho não é mais do que a sua obrigação?
- Abaixo de 85% é péssimo.
Cuidado com o que se exige e
com o recurso aos extremos e exageros. Costuma desmotivar de forma eficaz e
ainda por cima contribuir para a prejudicial sensação de constante insatisfação
e falha, receitas excelentes para construção de fraca resiliência e baixa auto-estima.
- Quero ver o que fazes para mim este ano.
Os filhos não “fazem”
resultados escolares para os pais.
- Quando eu era da tua idade, era tudo bem mais difícil e eu conseguia sempre ser bom a tudo.
Os exemplos da nossa infância
e adolescência podem ser inspiradores, cativantes e entusiasmantes para os
filhos, mas não quando são usados de forma a que sintam que constantemente não
conseguirão “chegar” onde os pais chegaram.
- Tens excelentes notas a Educação Física mas isso não conta.
Não vem na pauta? Não é uma
disciplina? Não envolve competências essenciais? Não pode contribuir para a
auto-estima, empenho e motivação do seu filho? Não pode ser essencial para o
futuro?
- Tens de ler este livro porque o ano passado não estudaste nada, é um castigo.
Ler é uma actividade tão
importante e tão rica, mas se for posta como um castigo, provavelmente nunca o
será, de forma alguma, em tempo algum.
- Não, não há tempo durante a semana para mais nada, sem ser escola, trabalhos e estudo. O que queres?
Provavelmente terá de haver,
nem que seja meia hora. Como se sente quando passa por isso dia após dia?
Vale a pena tapar a boca e
reformular as frases ou simplesmente, reflectir antes e escolher
conscientemente quem quer ser e como quer estar com o seu filho neste ano
lectivo.
Rita Castanheira Alves