sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Para LER COM os miúdos, a Psicóloga dos Miúdos sugere...



Porquê?

Porque é uma surpresa constante e intemporal! É interactivo e mágico, mas não é...

Que capacidades ajuda a desenvolver? 

Imaginação, criatividade, raciocínio (numérico, lógico, orientação), saber esperar, curiosidade, lidar com a surpresa.

Como poderei explorar o livro com o meu filho?

- Perguntando antes de virar a página o que será que vai acontecer a seguir;

- Ajudando o seu filho a contar;

- Pedindo que por vezes repita a contagem com maior confiança e firmeza, de forma a desenvolver a segurança e a motivação;

- Fazendo expressões faciais de surpresa, contentamento, curiosidade, estimulando as competências emocionais.

Fico curiosa como foi a leitura deste livro com os miúdos aí em casa! Fico à espera das partilhas!


Afinal ler, é muito mais do que ler... Acima de tudo é crescer!




segunda-feira, 22 de setembro de 2014

E se todos ralhassem consigo? A importância de elogiar o seu filho


E se todos ralhassem consigo?

E se todos os dias alguém lhe dissesse para não se vestir como se veste, para corrigir a forma como se movimenta e o modo como fala?
Provavelmente não saberia como fazer de outra forma, sentiria que não sabe fazer bem ou questionaria porque é que só lhe dizem como não fazer?
E se mesmo quando tentasse corrigir, cada aproximação sua ao que lhe é imposto não fosse reconhecida e lhe continuassem a apontar apenas o que ainda não está exatamente como é suposto?
Provavelmente, em alguns casos e com tanto reparo, deixaria de ligar ao que lhe dizem, deixaria que falassem, porque chegaria à conclusão que, fizesse como fizesse, nunca estaria exatamente como lhe é pedido.
Agora pensemos nos nossos filhos. Em casa, na escola, nos tempos livres e nas atividades que praticam fora da escola estão todos os dias à prova, em crescimento, a fazer coisas novas, a experimentar outras e é uma roda viva de tentativas e erros. E tantas vezes, sem darmos conta, lhes dizemos: “ - Não é assim. Faz assim. Tens de tentar de outra forma. Não se senta assim, come como eu, conversa baixo, não te reboles no chão, não faças que vais entornar, eu faço porque tu ainda não consegues.”
Se pararmos para escutar o número de vezes que lhes dizemos como não devem ou como devem proceder de uma forma diferente da que procedem, com certeza perderíamos a conta. Acabamos por ter o efeito contrário ao que desejamos. A mensagem que lhes transmitimos, de tantas vezes repetida e por tanta gente, deixa de fazer sentido ou ter a importância que gostaríamos.
A verdade é que as crianças estão todo o dia expostas à correção do que fazem, como agem, do que experimentam, do que ensaiam.
Assim, e para que aprendam o que queremos ensinar-lhes, cada passo que dão na direção certa é uma vitória e deve ser festejada como tal. Dá-lhes segurança, motivação e interesse em chegar mais perto do objectivo.
A verdade é que também, nós adultos, quando temos uma nova experiência, precisamos de mexer, de tentar, de falhar, de repetir e voltar a tentar para melhorarmos o nosso desempenho. E todos nós queremos feedback, para saber em que direção caminhamos, o que não conseguimos ainda fazer e como podemos proceder para nós aproximarmos do objectivo. Mas acima de tudo precisamos, ansiamos e sentimos como uma vitória sempre que alguém valoriza o que temos feito, o que tentámos e principalmente somente o facto de estarmos a tentar, de  arriscarmos.
Em casa, com os filhos (e não só) é frequente esquecermo-nos que é essencial deixá-los arriscar, valorizar a iniciativa de quererem ser eles a pôr sumo no copo, a pôr a mesa, a calçar os sapatos ou a tomar banho. Sim, a casa de banho ficará mais molhada do que é costume, gastará mais água, a toalha da mesa ficará ensopada em sumo, os sapatos podem ser calçados ao contrário e tudo isto dá trabalho, bem sei. Mas sei também, que da primeira vez entorna o sumo todo, da segunda vez já se vê sumo no copo e na terceira já se vê metade do copo cheio. Em cada conquista estamos lá, claro, para exemplificar o que ainda não está correto mas sobretudo e antes de tudo para fazer uma festa: "- Uau! Conseguiste fazer ainda melhor! Estás mesmo crescido!
Vai surpreendê-lo, vai reforçar a autoconfiança do seu filho, aumentar a sua autonomia e deixá-lo entusiasmado pelas suas conquistas. Deixe-o arriscar, dê-lhe os parabéns por isso, faça uma festa, proporcione a construção dos sucessos pelo seu filho.

Ponha uma toalha de plástico. Lance o desafio: Quem conseguirá encher melhor o copo? 
Acima de tudo elogie o seu filho.

Rita Castanheira Alves

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Episódios do consultório da Psicóloga dos Miúdos: Às vezes, a psicóloga fica babada...

O episódio desta semana passou-se com um dos meus clientes miúdos, agora com 10 anos, já com as dificuldades que o trouxe à consulta resolvidas há algum tempo, mas com consultas esporádicas há uns meses a pedido dele. No final da última consulta combinámos com os pais que quando quisesse vir ter comigo, surgisse alguma dificuldade ou assunto que precisasse resolver com a minha ajuda, poderia dizer-lhes, porque neste momento estava tudo a correr bem com ele, e não havia necessidade de ficar um dia marcado.  Mas os pais ressalvaram bem que poderia mesmo dizer quando quisesse vir. 
O "meu" miúdo, com uns olhos tão bonitos, olhou para mim, sorriu e disse: - Quando eu quiser? Então quero vir todos os dias. E sorriu com uma voz carinhosa e como se fosse mais pequenino.
 Depois riu-se e voltou a ser o miúdo de 10 anos, cómico, riu-se e disse: "- Estou a brincar."
Às vezes, no consultório da Psicóloga dos Miúdos, no meio de problemas, angústias, desafios, há momentos destes, tranquilos e muito compensadores. :)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O regresso à escola já regressou: as primeiras semanas de aulas

E depois de “prepararem a preparação” do regresso à escola, o “regresso regressou” mesmo. Há que ajudar o seu filho nesta nova fase.

É natural que possa notar o seu filho mais agitado, ansioso, irritado ou excitado nestas primeiras semanas de aulas. De repente, passou de 3 meses sem responsabilidades, sem objectivos académicos, sem rotinas a não ser ir à praia e brincar, para livros, mochila, fazer amigos, estar com atenção, deitar cedo, levantar muito cedo, regressar a um horário cheio e uma semana com tarefas para cumprir, na escola e em casa.

Com o tempo, ele chega lá. Vá… E os pais também.

Deixo mais umas dicas que, tenho reparado, ajudam os miúdos e as famílias que me procuram a “regressar ao regresso” à escola.

1.     Dar confiança e compreender: ir para uma nova escola, com novos colegas, ou voltar a ver os colegas com quem não se está há 3 meses, não saber que professores nos calharão, como correrá o ano, poderão ser motivos suficientes para que o seu filho se sinta tenso, ansioso e preocupado. É importante compreender, acompanhar e entrar em sintonia com ele, mostrando-lhe que é natural sentir-se assim e ter esse tipo de pensamentos. Não desvalorize, mas também não dramatize. Acompanhe, dê segurança e compreenda: “- Percebo o que sentes, é natural estares com muitas interrogações na tua cabeça. O tempo vai trazer-nos as respostas.”

2.     A lista das dúvidas e preocupações: após o primeiro dia de aulas (ou até antes), podem conversar sobre as preocupações e dúvidas que o seu filho pode ter, especialmente se for para uma nova escola, ano de mudança de ciclo e não vá com muitos colegas. Para facilitar esta tarefa, podem agarrar numa folha grande e escrever todas as preocupações e interrogações que imaginam que os alunos podem ter no regresso à escola. Esta tarefa vai facilitar bastante a capacidade do seu filho reflectir sobre aquilo que o preocupa e conseguir falar sobre isso. De seguida, poderá convidar o seu filho, dentro dessas preocupações, quais são as dele. Será uma lista que servirá de guia para que possa ir ajudando o seu filho a conversar sobre a escola e verificar se está tudo a correr bem.

3.     Instalar rotinas e hábitos: como sugeri no artigo sobre a “preparação da preparação”, é importante já ter instalado novos horários mesmo antes da escola começar, mas se não foi possível, agora é tempo. Nos primeiros dias, é natural que ouça à hora de ir para a cama: “- Não tenho sono, ainda é cedo”. No entanto, é bom reinstalar o hábito de ir para a cama à hora marcada, mesmo que possa demorar um pouco mais a adormecer e haja uma história ou conversa mais longa. Paralelamente, instalar hábitos e horários para a realização dos trabalhos-de-casa é essencial desde os primeiros dias, para que consigam um ano bem organizado, com tempo para brincar e descansar, tarefas essenciais para o sucesso académico.

4.     Ajudá-lo a arrumar as aprendizagens do dia e ensiná-lo a fazer revisões mentais: diariamente ajudá-lo a recordar-se do dia, conversando sobre o melhor do dia, o que não foi tão bom, o que mais gostou, o que aprendeu, o que se lembra melhor do que aprendeu. Para filhos que não aprofundam o tema, fica uma ajuda extra: http://observador.pt/2014/08/30/25-formas-de-perguntar-como-correu-escola/
Estas conversas vão ajudar o seu filho a organizar o raciocínio, saber o que assimilou melhor e o que não ficou compreendido, aprofundar as experiências do dia-a-dia e são excelentes oportunidades para o ir acompanhando nas várias vertentes do seu dia na escola, não só a aprendizagem dos conteúdos programáticos, mas também a vertente social e emocional.

5.     Fazer COM ele, não fazer por ele: desde início, especialmente com as crianças mais pequenas, acompanhá-las na execução dos trabalhos-de-ca-sa, no sentido de promover a sua autonomia e responsabilidade e não caíndo na tentação de fazer por elas, mesmo quando já estão muito cansados ou são trabalhos-de-casa intermináveis. É preferível não fazer todos e explicar ao/à professor(a) do que fazer por ele. Criará um problema que se instala e depois é de difícil resolução, além de que está a contribuir para que o seu filho construa a ideia de que não é capaz.

6.     Elogiar desde o primeiro momento: desde o primeiro dia de aulas, encontrar motivos para o elogiar. Certamente encontrará pelo menos um motivo para o fazer (porque não perdeu todo o material, porque consegue carregar com a mala, porque escreveu e sabe os trabalhos-de-casa… Seja curioso e atento, de certeza que vai encontrar motivos). Assim, desenvolve a auto-confiança e a motivação do seu filho para a escola e para o sucesso.

7.     Seja presente e conheça: conheça os pais dos colegas, conheça os professores, conheça quem está com o seu filho todo o dia. É importante que os pais criem uma rede de apoio entre si e que saiba com quem o seu filho está acompanhado todos os dias da semana. Esteja disponível para colaborar com o que lhe for possível, a escola agradece e o seu filho ainda mais.

E estas 7 medidas dão já para um bom plano para “regressar ao regresso” à escola. Resta-me desejar boa sorte, bom trabalho e um excelente ano!

Qualquer dificuldade, questão, problema, a Psicóloga dos Miúdos pode ajudar. Não hesite em escrever-lhe ou marcar consulta. 

Rita Castanheira Alves

Episódios do consultório da Psicóloga dos Miúdos: Os psicólogos vivem no consultório.

Há uns anos acompanhei uma miúda de 9 anos, muito curiosa, que fazia muitas perguntas sobre tudo o que via e sempre que tinha dúvidas.
Geralmente era a última cliente do dia e ela já tinha percebido isso, aliás perguntado. :) E um dia, já a sair da sala, perguntou-me se eu ía jantar, ao que lhe respondi afirmativamente. E de seguida perguntou, com uma expressão muito confusa: "- Mas afinal onde é que tu dormes? Tens uma cama noutra sala?" A minha cliente "miúda" tinha razão, de facto, há dias em que os psicólogos quase vivem no consultório.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Regresso à escola: Preparar a preparação


E de repente passaram 3 meses de férias. Tão rápidos e tão cheios e pela frente avizinha-se novamente um período longo de rotinas, horários, trabalhos de casa, actividades e estudo. Ufa... Só de pensar cansa. Mais os pais do que os filhos. Se for pai ou mãe sabe o que quero dizer.

E para que o cansaço, ainda que inevitável, possa vir em doses mais reduzidas, há pequenas acções, medidas e gestos que podem ajudar a que as primeiras semanas do regresso à escola sejam... mais fáceis. 5 medidas em 8 dias antes do regresso à escola:

  1. Voltar ao horário escolar: 8 dias antes ajude o seu filho a voltar ao seu horário escolar, aproximando-se da hora de deitar e de acordar da época escolar. A rotina de sono é essencial para um bom aproveitamento na escola e precisa de um tempo para se voltar a instalar;
  2. Conversar tranquilamente sobre a escola: gradualmente voltar a conversar sobre a escola, as rotinas, a matéria, os professores e colegas. Deste modo, ajuda o seu filho, de forma tranquila, a pôr o cérebro em “modo escola”;
  3. Arrumar o quarto para modo escola: juntos guardarem uma tarde para arrumar o quarto, arrumar a secretária, mudar a disposição da mesma para uma maior organização, instalar ou limpar o placard em frente à secretária para escrever recados importantes, horário da escola e estudo, datas de testes e trabalhos;
  4. Tour mochila e material: antecipar a compra dos materiais necessários e possíveis de comprar e envolver o seu filho nessa tarefa. Promover a participação activa nas decisões sobre a mochila, sobre os cadernos, que material é necessário, para que situações;
  5. Organização e preparação do material: envolver o seu filho na preparação do material, nas tarefas que já consegue realizar. Por exemplo, pode incentivá-lo a cortar pequenas etiquetas para escrever o seu nome como forma de identificar os seus livros e cadernos. Além de desenvolver a responsabilidade e organização, treina a motricidade.
Mas para quê antecipar rotinas, se as mesmas depois duram tanto tempo? Para quê ter de antecipar algo e perder os últimos dias de férias? Na verdade, muitos pais questionam-se sobre isto, mas na verdade, as crianças (e não só) necessitam de um período gradual de adaptação às mudanças e a diferentes fases e rotinas, pelo que a antecipação e a mudança gradual vai ajudar o seu filho a entrar de forma tranquila na mesma. A organização prévia dos materiais e do quarto proporciona uma maior tranquilidade aos pais quando o tempo de escola voltar, não tendo já que se preocupar com esses aspectos. Não custa tentar. Provavelmente valerá a pena.

Rita Castanheira Alves 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Episódios do consultório da Psicóloga dos Miúdos: É tão simples ser criança...

Na consulta, com um dos meus miúdos de 7 anos, ouve-se dois sons seguidos, constrangedores e ele olha para mim, com ar comprometido, mas continua a tarefa que estava a executar e quase sem o ouvir, pronuncia: "desculpa". 
Porque ambos demos conta e achei que era uma boa oportunidade para trabalharmos o embaraço e a vergonha, perguntei-lhe: "- Deste um pum?" - E sem o deixar responder, digo-lhe, na tentativa de o tranquilizar, que é normal sentir-se um pouco embaraçado mas que acontece e que pedir desculpa, como me pareceu que fez, é uma boa forma de lidar com a situação.  
Sem se mexer, olha para mim e diz-me: "- Não fui eu, foi um fantasma." Eu, fazendo-me despercebida, digo-lhe: "Não estou a perceber. Então mas se foi um fantasma porque pediste desculpa?"
E ele, sem parar o que estava a fazer, diz rapidamente: " - Oh, ele pediu-me para dizer por ele."