E se
todos ralhassem consigo?
E se todos os dias alguém lhe dissesse para não se
vestir como se veste, para corrigir a forma como se movimenta e o modo como
fala?
Provavelmente não saberia como fazer de outra
forma, sentiria que não sabe fazer bem ou questionaria porque é que só lhe
dizem como não fazer?
E se mesmo quando tentasse corrigir, cada
aproximação sua ao que lhe é imposto não fosse reconhecida e lhe continuassem a
apontar apenas o que ainda não está exatamente como é suposto?
Provavelmente, em alguns casos e com tanto reparo,
deixaria de ligar ao que lhe dizem, deixaria que falassem, porque chegaria à
conclusão que, fizesse como fizesse, nunca estaria exatamente como lhe é pedido.
Agora pensemos nos nossos filhos. Em casa, na
escola, nos tempos livres e nas atividades que praticam fora da escola estão
todos os dias à prova, em crescimento, a fazer coisas novas, a experimentar
outras e é uma roda viva de tentativas e erros. E tantas vezes, sem darmos
conta, lhes dizemos: “ - Não é assim. Faz
assim. Tens de tentar de outra forma. Não se senta assim, come como eu,
conversa baixo, não te reboles no chão, não faças que vais entornar, eu faço
porque tu ainda não consegues.”
Se pararmos para escutar o número de vezes que lhes
dizemos como não devem ou como devem proceder de uma forma diferente da que procedem,
com certeza perderíamos a conta. Acabamos por ter o efeito contrário ao que
desejamos. A mensagem que lhes transmitimos, de tantas vezes repetida e por
tanta gente, deixa de fazer sentido ou ter a importância que gostaríamos.
A verdade é que as crianças estão todo o dia
expostas à correção do que fazem, como agem, do que experimentam, do que
ensaiam.
Assim, e para que aprendam o que queremos
ensinar-lhes, cada passo que dão na direção certa é uma vitória e deve ser
festejada como tal. Dá-lhes segurança, motivação e interesse em chegar mais
perto do objectivo.
A verdade é que também, nós adultos, quando temos uma
nova experiência, precisamos de mexer, de tentar, de falhar, de repetir e
voltar a tentar para melhorarmos o nosso desempenho. E todos nós queremos feedback, para saber em que direção
caminhamos, o que não conseguimos ainda fazer e como podemos proceder para nós
aproximarmos do objectivo. Mas acima de tudo precisamos, ansiamos e sentimos
como uma vitória sempre que alguém valoriza o que temos feito, o que tentámos e
principalmente somente o facto de estarmos a tentar, de arriscarmos.
Em casa, com os filhos (e não só) é frequente
esquecermo-nos que é essencial deixá-los arriscar, valorizar a iniciativa de quererem
ser eles a pôr sumo no copo, a pôr a mesa, a calçar os sapatos ou a tomar
banho. Sim, a casa de banho ficará mais molhada do que é costume, gastará mais
água, a toalha da mesa ficará ensopada em sumo, os sapatos podem ser calçados
ao contrário e tudo isto dá trabalho, bem sei. Mas sei também, que da primeira
vez entorna o sumo todo, da segunda vez já se vê sumo no copo e na terceira já
se vê metade do copo cheio. Em cada conquista estamos lá, claro, para exemplificar
o que ainda não está correto mas sobretudo e antes de tudo para fazer uma
festa: "- Uau! Conseguiste fazer ainda
melhor! Estás mesmo crescido!”
Vai surpreendê-lo, vai reforçar a autoconfiança do
seu filho, aumentar a sua autonomia e deixá-lo entusiasmado pelas suas
conquistas. Deixe-o arriscar, dê-lhe os parabéns por isso, faça uma festa,
proporcione a construção dos sucessos pelo seu filho.
Ponha uma toalha de plástico. Lance o desafio: Quem
conseguirá encher melhor o copo?
Acima de tudo elogie o seu filho.
Rita Castanheira Alves