quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Enquanto chove lá fora, mimem-se.

Nesta noite chuvosa, vamos "dar-nos" mimos. Mimos aos filhos, dos crescidos aos pequenotes, à mãe, ao pai, aos manos, a quem estiver aí em casa.
Vamos aproveitar que chove tanto lá fora e fazer um intervalo "nas vidas" de cada um: deixar de lado a pilha de trabalhos-de-casa, o jantar e os banhos para despachar, os emails por ler e os likes nas fotos do facebook. Vamos aproveitar e respirar. Juntos, comer cereais, torradas ou encomendar uma pizza, conversar, rir, dizer disparates e saber uns dos outros.
Com tanta chuva lá fora, estradas cortadas, inundações e um dia que ficou cinzento, vamos ser família e esquecer, por um serão, o que vem amanhã. Ouvir o miúdo mais novo e vê-lo fazer o novo truque de magia, pedir à do meio que nos mexa no cabelo e nos pinte as unhas, como tanto gosta, olhar para o mais velho e pedir-lhe que nos mostre a música que gosta, o que está na moda e o que é "cota". Vamos aproveitar que chove lá fora e ser curiosos com a vida dos nossos filhos e dos pais, o que os move, o que gostam, o que lhes apetece fazer e contar.
Deixar chover lá fora sem parar e aproveitar para fazer um intervalo e estar, simplesmente, estar em família. E sentir. Sentirem-se.
Ter a certeza que amanhã pode haver falta de TPC, o trabalho atrasado ou um teste abaixo do 70%, mas que daqui a muitos anos, haverá pessoas felizes, gostadas, satisfeitas e por isso bem-sucedidas.

Rita Castanheira Alves

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O meu filho não vibra de alegria. E eu vibro?

Mais importante é "sentir" o meu olhar de miúdo a brilhar. 
É sentir o coração a bater mais forte, porque depois de um dia de escola, vou poder ver o filme com o meu pai, sem falarmos em notas, nem em trabalhos. Só porque nos sabe tão bem preguiçar no sofá, sem mais nada. 
O mais importante é "sentir-me" a sorrir por dentro porque a minha mãe se espantou com os desenhos que agora gosto de fazer. Sentir entusiasmo porque depois dos trabalhos-de-casa vou poder surpreendê-la com mais um destes desenhos que inventei e que ela está sempre tão curiosa para ver. 
De manhã acordar e saber que a escola é importante, faz parte da minha vida, mas para além da escola, há muito mais com que posso preocupar-me e ocupar-me: a nova colecção que gostava mesmo de terminar, o almoço com os primos na cozinha sem adultos, a nova coreografia que estamos a inventar na aula de dança e a nova música que estou a inventar com a minha amiga no meu quarto. 
Sentir que me apetece continuar a viver e que a vida é uma coisa engraçada, desafiante, divertida aos 10 anos e que continuará a ser mesmo quando passarem muitos anos e for adulto. Sentir que há um mundo de possibilidades à minha frente.

Mais importante é "sentir" o meu olhar a brilhar, "sentir" o meu coração a bater de entusiasmo com coisas pequenas mas que nos deixam logo em pulguinhas a nós miúdos, "sentir" a vontade de viver e "sentir" vontade de me imaginar de 1001 formas quando crescer aos 15, aos 18 e aos 30 anos e ver um mundo de possibilidades. "Sentir" que me orgulho dos desenhos que faço, mesmo quando a Matemática não consigo passar do 60%.

E acima de tudo "sentir" o olhar dos meus pais a brilhar porque me vêem brilhante, feliz e entusiasmado, mesmo quando só consegui ter um 60%. Acima de tudo "sentir" que o olhar dos meus pais também brilham quando vamos todos para a mesa, para a galhofa porque o dia difícil de escola e trabalho já lá vai. Agora estamos em casa. 

Rita Castanheira Alves

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Tem muita coisa entalada na garganta?


Já basta tudo o que fica "entalado" e que tem mesmo de ficar. No trabalho, com os colegas ,com os chefes, com aquele cliente menos simpático e que nos põe em causa e ao nosso esforço. Já basta os "entalanços" fora de casa...

É importante dizer, não deixar "entalado" na garganta.  Exprimir em casa o que cada um sente. Não deixar de dizer. Não deixar de conversar sobre o que se passou. Mas nem sempre é fácil. Porque os filhos não vão perceber, porque vai dar novamente em discussão, porque está demasiado arrependido para lhe pedir desculpa por ter gritado consigo. Porque expressar emoções ainda é difícil. Porque raramente conseguem estar juntos. 
Mas não deixe "entalado", porque um dia, em vez de conseguirem falar, só vão gritar e culpar-se e embirrar com tudo. 
E se tiverem formas alternativas de se expressarem? 
Aqui fica uma ideia da Psicóloga dos Miúdos para as famílias.

Arranjem um quadro de ardósia e giz, um bloco com um íman para pôr no frigorífico ou um conjunto de folhas e uma caneta. Qualquer que seja a opção, o importante é estar num local frequentado por todos os elementos da família, como a cozinha.

Sempre que se lembrem, de manhã ou à noite deixem mensagens uns para os outros.  Uma estratégia que promove relações familiares mais saudáveis, que nos permite explicar o que às vezes não conseguimos explicar verbalmente, que permite “falar” sem que nos interrompam, que nos permite agradecer ou pedir desculpa depois de um dia mau.


Quantas vezes já escreveram uns aos outros? 

Rita Castanheira Alves

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Só pode bater, quem conduz...

Sou pai e só assim posso errar. Gritar mais do que devia, suspirar impaciente, não abraçar quando é preciso abraçar. E desesperar quando devia dar segurança.
Há dias mais difíceis. Porque além de ser pai, sou pessoa, tenho uma história que já podia encher as páginas de um livro cheio de peripécias, impasses, dificuldades, sou trabalhador e tenho tantos assuntos para resolver, emails por responder e querer todos os dias ser melhor, sou amante e quero mimar e ter tempo para dar beijinhos e continuar a namorar, poder lembrar-me do dia em que festejo o amor, sou amigo e ter tempo para os meus amigos. Sou pai e nem sempre o sei ser. Não há chips para pais, com a programação toda do que é preciso ser e fazer.
E por tudo isto e porque é um desafio a valer, ser pai é errar. É ter culpa porque tentei, porque não tive paciência ou porque é um dia não. É ter culpa porque hoje não li a história ou porque de manhã estava demasiado ensonado. Se não fosse pai, não podia errar com os filhos, não podia ter culpa.

É como quando se conduz. Só se conduzir é que corro o risco de bater ou o risco de bater e não acontecer nada de grave e ter viagens felizes, descontraídas, conhecer sítios incríveis e levar-me até lá e a quem posso levar comigo.
Se não conduzir, a culpa nunca será minha.
Se não conduzir, também nunca poderei levar-me a viajar e descobrir caminhos novos e felizes.

Rita Castanheira Alves

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

E quando for "normal" os adolescentes irem ao psicólogo?


E hoje uma das minhas clientes apareceu na consulta com esta camisola. Achei tão gira que pedi para tirar uma foto.
Garanto que não há uniformes disponíveis nas minhas consultas. ;)
Mas quem sabe se mais "miúdos e miúdas" usarem mensagens do género, a ida ao psicólogo não se torna (ainda) mais aceite e menos estigmatizada no meio dos adolescentes? Fica a ideia.
A verdade é que a maioria dos adolescentes, depois de ir as primeiras vezes, gosta, reconhece valor e utilidade e decide continuar.

Porque não tentar aí em casa? Com os miúdos adolescentes, vale a pena explicar, conversar e negociar: "- Acho que é importante ires por este, este e este motivo. Podemos fazer a experiência, vais a uma primeira consulta e depois decides se queres continuar."

Fica a dica para os pais de adolescentes.
Quem sabe se um dia também não usam uma camisola "Love my therapist"...